quinta-feira, 15 de abril de 2010

Revivendo momentos. Parte 4. Já perdi dois bebês.

Ontem falei aqui sobre ter mais um filho.
Sobre as dúvidas e incertezas em criar e educar mais uma criança.
Mas antes do Mais um, eu tive um longo caminho até chegar no Um.
Não é pra ser uma história triste, ok?
Muito pelo contrário, vocês já podem conferir, por esse blog mesmo, que esse história (longe de ter um final) é mais do que feliz.
...

Relembrado em julho de 2009

Confesso que não é fácil reviver dias tão tristes, mas falar deles não me dói mais. Me faz apenas aceitar que não estamos no comando de tudo. É lógico que continuo achando que foi uma sacanagem muito grande passar por isso duas vezes, mas hoje consigo analisar a situação com outros olhos. Consigo não só pensar em mim “mãe”, mas no sofrimento de todas as pessoas que estavam lá comigo, o que sentiram também. Consigo enxergar que passou.
Perdi dois bebês numa caminhada longa até descobrir o que realmente acontecia com o meu organismo e qual a solução para os meus problemas.
Mas a perda não é o começo da história. Meu marido nunca quis ter filhos e um belo dia chegou para mim e disse que poderíamos tentar.
Minhas gravidez sempre foram muito planejadas, não tinha nada de surpresa nem indecisão. Foi difícil engravidar pela primeira vez, precisei induzir a ovulação para que finalmente acontecesse. Lembro exatamente como foi pegar o exame e ler “positivo”. Lembro de ter me perguntado, sozinha dentro do carro, se positivo queria realmente dizer que eu estava grávida ou se seria alguma daquelas pegadinhas da medicina. Lembro da sensação boa que o instinto me fez sentir, que ia reproduzir.
Mas é triste porque na época, quando perdi o bebê aos 3 meses de gestação, a avalanche de sofrimento e indignação foi tamanha que não consigo lembrar de um dia bom que seja. Tudo se resumiu ao dia em que o médico falou “aborto espontâneo” naquela sala escura de ultrason.
Meu primeiro aborto foi particularmente dolorido. Tive sangramentos desde o início, tomei hormônio para segurar o bebê, mas em vão. Quando o aborto foi constatado, o médico disse que como não dava mais pra ver o feto o meu organismo já estava liberando os restos por meio da menstruação. Ele pediu que eu voltasse em uma semana para ver se uma curetagem seria necessária. Ao fazer o novo exame lá estava meu filho, fraco, pequeno, mas vivo.
Sinceramente não sei no que pensei na hora, não lembro. Só lembro da voz fria do médico pedindo que eu fosse pra casa esperar o coraçãozinho parar de bater para aí sim passar pela curetagem.
Depois de mais ou menos 1 ano, já com acompanhamento de outro médico, descobri que um septo deixava o meu útero consideravelmente menor. Passei por uma cirurgia e fomos liberados para engravidar de novo. E foi o que aconteceu. Mas logo o sangramento apareceu e em 3 meses já estava passando por outro aborto.
Dessa fase só lembro do medo e da infinidade de artigos sobre adoção que li enquanto estava sozinha. Tivemos uma sorte muito grande com o novo médico, que nos indicou para um especialista. Lembro também do pavor ao ouvir “aborto de repetição”. Será que essa denominação seria permanente? Duas vezes já era repetição demais pra mim.
Foi aí que encontramos o Dr. Ricardo Barini em Campinas. Depois de exames descobrimos uma incompatibilidade genética entre eu e meu marido. Fizemos um tratamento com vacinas (confesso que longo, caro e dolorido). No meio do processo fui informada que devido a uma mutação genética eu teria que tomar injeções na barriga durante toda a gestação.
Na época lembro de ter usado todo o meu vocabulário de palavrões e ter pensado em quão sacana Deus estava sendo comigo, mas aceitei. Olhei pro médico e pensei: me mostra logo essa agulha que eu já quero ir me acostumando com ela.
Não foi fácil, no começo – como eu mesma me apliquei todas as cerca de 200 injeções - respirava fundo e me segurava pra não tremer. No fim, confesso que já estava com medo de uma crise de abstinência e brincava com o meu obstetra que a cada consulta apareceria com um novo piercing, só pra compensar.
Dessa terceira gravidez, que aconteceu logo que nossos médicos liberaram, me lembro de tudo. Tudo mesmo. Eu acho. Olho pra trás e vejo que foi mesmo uma caminhada. Que parei pra tomar fôlego algumas vezes, me recuperei de alguns tombos, passei a pensar de maneira diferente sobre várias coisas da vida. Lembro do receio de contar pros outros, do medo de estar tão feliz. Mas me lembro também de olhar no espelho com aquela barriga enorme e dizer pra mim mesma que tudo acabou bem.
Lembro ainda de ouvir o choro do Isaac, de sentir o cheiro dele pela primeira vez, e de acordar de madrugada só pra constatar que não estava sonhando. Lembro de querer esquecer os abortos e fazer força para lembrar deles como agora.
E faço questão de me lembrar, todos os dias, o quão importante é não ignorar os fatos, aceitar (mesmo que depois de muito tempo) que as coisas acontecem por algum motivo em nossas vidas. Que dói, cansa, derruba, mas passa. 
Que uma hora essa dor toda dá espaço para um novo sorriso, uma nova esperança, um novo começo.

Quinta-feira especial pra todos nós.

11 comentários:

Mãe Viajante disse...

Nossa, Carol, que história comovente! Fiquei emocionada com a sua perseverança. Parabéns por ter insistido, o Isaac é um menino lindo e esperto, pelo que pude ver. Ah, adorei ter visto a carinha dele nas fotos, eu já estava curiosa! E parabéns pelo blog também, está muito bacana e gostoso de ler.
Beijos
Livia

Carol Garcia disse...

Oi Livia!
Bom ter você visitando "a minha casa" também!
Obrigada
bjocas

Mamma Mini disse...

Nossa Carol, que punk, eu também passei pelo momento aborto e também pensei em todas as sacanagens que a gente acha que está acontecendo com a gente neste momento, mas ter um filho depois de tudo, saudável e perfeito é o melhor presente, acho que Deus sabe mesmo o que faz, e a gente precisa conhecer nosso corpo, nossa história pra poder tocar o barco. E ficamos sim super escoladas né? tenho gostado muito do seu blog, e detalhe, vc é a Carol Garcia que dava aula na Anhembi ou será que é homônima? bjs

Fabi disse...

OI Carol, esse seu texto foi forte!!! Eu tive duas gravidez. A primeira foi uma benção do começo ao fim. Antes, durante e depois do parto também. A minha filha nasceu super bem, perfeita e saudável. Já na segunda.... Foi tudo diferente. Estava grávida, mas não me sentia grávida. Acho q no fundo a gente sente alguma coisa. Ainda mais qdo tive uma gravidez super tranquila antes. Tive um aborto retido. Estava de 11 semanas. Foi horrível. E ainda estou com medo de tentar de novo. Isso tem somente 7 meses. Tento esquecer, mas o medo é maior. Espero um dia poder passar por cima disso assim como vc fez. E ter a certeza de que realmente dias melhores virão sempre. Bjus da Fabi

ian.press comunicação disse...

Ai que fofa! Adorei o que escreveu. Sabe que eu passei por algo do tipo. Mas no meu caso, tive uma gravidez ectópica, ou seja, o feto se desenvolveu fora do útero, mas precisamente na trompa direita. Foi terrível, tive sangramento desde o início, não vi o baby no ultra e depois de um sangramento mais forte fui parar no Hospital onde foi constatada a gravidez tubária. Uma dor enorme saber que teria que operar pra tirar o baby e saber que teria que abrir mão daquela mini-vida que tentava se desenvolver em outro lugar. Sofri muito e muita gente se compadeceu do meu sofrimento. Agora, 4 meses depois acho que estou apta a voltar a engravidar mas devo admitir, que apesar das feridas cocatrizadas, morro de medo.
Pausa para tomar fôlego. Uff
Graças a Deus existe pessoas como você para me empurrarem pra frente.
Obrigada pelas palavras, me ajudaram muito.
beijos

NiNe disse...

Nossa Carol,
Nao sabia de toda esta tua luta!!!

Mas graças a Deus com um final feliz!!!


Bjokas grandes

Paloma Varón disse...

Caro, não sabia disso. Mas que bom que vc se recuperou e consegue contar esta história. E que maravilha ter o Isaac agora, é claro!
Beijos

Anna disse...

oi Carol,

Como sou nova na sua "casinha" só vim conhecer essa história agora.

Que bom que está tudo bem agora, você é muito forte.

Beijos

Anônimo disse...

É por essas e por outras que eu te admiro, minha amiga, sem nem mesmo te conhecer pessoalmente.

* Mto emocionada *

Mariana disse...

bah carol, que punk. nao sabia disso tudo.
cada vez te admiro mais amiga.
é uma guerreira.
nao passei por um decimo e ja tenho medo do segundo, risos.
mas cada um tem a cruz que pode suportar, já dizem, né.

Milla Muglia disse...

O Carol cheguei aki no seu blog depois desta historia, não sabia dessa sua jornada! Imaginei as injeções e o tanto de sentimento que deve passar na cabeça!!!Ainda bem que deu certo!!!
Bjkas!

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