segunda-feira, 26 de outubro de 2015

as voltas que o mundo dá, o feminismo e a doce arte de educar uma criança...

título longo, eu sei...
mas não consegui resumir, nem pensar em um melhor.
mas vamos lá... organizar as ideias.

acontece que aos sete anos eu ia sozinha ao supermercado.
com a mesma idade eu já era capaz de deixar louça lavada, cozinha arrumada e tarefa feita.
já lia e escrevia meus livros, fazia capa e tudo.
ia pra escola a pé sem reclamar.
já sabia que ônibus tomar, contar os dinheiros e solicitar o troco caso faltasse.

certeza.
a geração antes da nossa não estava a fim de criar bundões.
seja lá por qual motivo, a educação a base do olhar de repreensão, das ocasionais chineladas e dos temidos "vai lá no meu armário e pega a cinta", funcionou.
bom, pelo menos pra mim.

mas acontece também que o tempo passa, as cabeças pensantes e influentes se transformam, a tecnologia avança e penso eu agora que virei bundona.
em algum momento, com algum sentido, me perdi na coisa toda.

hoje sou eu quem cria um filho de sete anos.
que reclama para ajudar em tarefas simples do cotidiano.
que nem imagina uma realidade onde ele lave o próprio copo.
vá lá limpa a própria buzanfa sem achar aquilo um absurdo.

e eu fico me perguntando em que momento da vida a coisa desandou...
como é que eu não segui com os ensinamentos passados pela minha vozinha e depois minha mãe.
que tipo de ser eu acho que vou deixar pro mundo.
um bundão feliz?
um egoísta?
um infeliz de tão feliz?
uma daquelas criaturas que se frustram por ter que colaborar?

mas mesmo me fazendo uma infinidade de perguntas eu não desisto.
é lógico ser mais fácil ir lá pegar o copo, dar dois passos e colocar na pia do que desfiar um sermão sobre a contribuição e convívio em sociedade, mas eu não me poupo.
falo sobre a vida, sobre tudo o que significa ter a atitude de pegar o copo que usou e levar até a pia.
o copo, o prato, os talheres e o guardanapo, que deve ser jogado no lixo reciclável.

ainda tem o tênis, a mochila, os brinquedos.
os horários e compromissos.
o banho sem demora, a roupa limpa, a suja, a cueca longe do chão.
enfim, as responsabilidades.
que já existem sim, e eu não as ignoro.
não deixo que isaac esqueça também.
oras.

eu não esquecia.
e olha que tinha sete anos.
ai de mim se precisasse de supervisão adulta para as responsabilidades que faziam meus dias na época.
eu mesmo me cobrava em ajudar, já que minha mãe trabalhava o dia todo... nem passava pela minha cabeça dar mais trabalho a ela.

não quero viver de extremos.
não quero ser igual a minha mãe.
mas também não quero ser tão diferente assim.
quero mais é que o mundo dê voltas e voltas e volte de novo, pois acho que assim também se aprende.

e como é que pensei nesse texto?
olhei meus cintos no armário esse final de semana e gelei ao pensar se todas aquelas taxas e fivelas enormes morassem no armário da minha mãe em 1986.

...



quarta-feira, 7 de outubro de 2015

vivendo e ensinando e aprendendo (como o consumismo acontece lá em casa)

está ele lá.
isaac parado, só de cueca, em frente ao espelho:

- sabe, mãe, eu não entendo.

(antes de eu me apavorar imaginando todas as questões que envolvem um menininho de 7 anos, cuecas e espelhos, fui traída pela minha própria língua e pensamento rápidos)

- o que você não entende, isaac?

ele coloca as mãos na cintura, mira bem a cueca, o pipi, sei lá, a parte de baixo:

- esse negócio das cuecas, mãe.

(pronto. agora ele vai querer andar com o pássaro livre. só pode)

- como assim?

ele pega no pipi, bem na frente, bem menino, bem sei lá. não consigo explicar.

(e já começo a pensar num bom motivo de eu não ter mandado ele vestir logo a bermuda)

- eu não sei pq eles colocam esses desenhos de personagens na cueca.

(respondo um pouco aliviada, só que não. isaac sempre tem questões surpresa guardadas na manga)

- não sabe?

- é não sei. pq, ó, veja bem...

(iiiiii, o veja bem, me lasquei)

e deixo ele continuar, olhando firme seu reflexo no espelho.

- se a cueca fica escondida, pq é que ela tem que ser bonita ou ter o personagem. só eu que vou ver...

- entendo sua dúvida, filho... entendo.

- então, mãe, não é sem sentido????

(e lá vamos nós)

- sim, se a gente pensar dessa maneira, sim... mas eu vou te explicar um sentido mais triste.

- triste?

(só pensei nessa palavra, foi mal)

- é. triste. vc sabe pq eles colocam os personagens nas cuecas?

- não.

- pra mães bobas, como eu, irem na loja, pensarem nos seus filhos fofos, e gastarem o dobro do dinheiro num pacote de cuecas só pq há um personagem nela.

- cueca com desenho é mais cara?

- sim, amor, bem mais cara.

- e vc comprou?

(aí eu já estava jogada no chão, me achando a pior das criaturas)

- comprei, filho, pq na hora a tonta aqui só pensou em como vc curte assistir a esse desenho. e comprei.

- hummmm ...

(ponderou ele, com uma cara de pena, que deu pena de mim)

- é isso que as empresas fazem, isaac, nos enfiam produtos que não precisamos.

- como exemplo, cuecas com desenhos que ninguém vai ver.

- isso.

- ó, mãe, eu não preciso de cueca com desenho. é legal, mas tudo bem usar cuecas lisas.

(ploft! só não morri alí pq se o papo rolou eu devo estar acertando em alguma coisa)

- que bom filho, que vc entende assim.

(aí acho que ele percebeu a cara de "puta que paril! que merda! como eu pude me render as cuecas estampadas e licenciadas???? que caralho de mulher/mae/ser humano sou eu????)

- mãe, olha aqui na gaveta.... eu tenho muitas cuecas lisas. olha!

se certificou de que eu realmente estava olhando na gaveta, sorriu e saiu, correndo atrás do cachorro.

...

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