sábado, 14 de novembro de 2015

O acabar do mundo.


Se minha vozinha estivesse viva e um tanto lúcida acredito que choraria dias ao ver o absurdo que aconteceu com a Vale em Minas Gerais.
E digo mais, morreria perguntando os motivos ao seu Deus, todas as noites, orando pelo Rio Doce.
Grande mulher. Repetiria "o mundo está acabando, que pena".
Chego a ser egotista a ponto de dizer um "sorte a dela" ter-lhe a morte poupado dessas coisas.
Sobre Paris? Sobre os atentados? Sobre o terror?
Diria que Dona Eliza ergueria os ombros e seria prática "esse tudo acontecendo aqui e vocês buscando problemas lá do outro lado do mundo?".
Mas acontece, vó, se a senhora estiver me ouvindo, o mundo não é mais tão pequeno.
Ontem mesmo eu respondia, em uma prova, pergunta sobre o Charlie Hebdo. E sinto até hoje um arrepio na espinha.
Outro dia mesmo eu lamentava sobre os refugiados.
Ainda vivo indignada com os subnutridos.
Achando a Rússia uma loucura.
Estão essas questões, cada uma delas, em outros lados do mundo. E como esse mundo agora é pequeno.
Pra você ver...
Seu bisneto ontem bateu as asas, sua primeira viagem sem os pais.
Foi pra longe, mas nada que algumas horas de avião não resolvam.
Se der saudade?
Skype, WhatsApp, SMS, messengers, tudo num clique.
Se acontecer algo?
Se ele ficar doente?
Se ele quiser vir embora?
Ora, vó, a pediatra está online e a vida é assim mesmo.
Com certeza ela me reprovaria e diria algo sobre criação dos filhos "eu trabalhava demais, mas vocês hoje, não tem limite. Lógico que ele nem vai sentir saudade, passa muito tempo longe de vc."
Sim. Eu choraria alguns dias pensando nisso. Pensando muito.
Mas voltaria a ficar horrorizada com o noticiário. E depois mais horrorizada ainda sabendo que ele não me mostrou tudo o que deveria.
Mais mais horrorizada por pensar que há gente nesse mundo pequeno que vive satisfeita com essas verdades incompletas.
E vem aquele cisco de felicidade.
Um cisco meu, em pensar no Isaac.
Lembrar que o estamos educando para ser diferente.
Para não ficar preso a lugares, nem ideias, nem não-verdades.
Me veio o rostinho dele ontem, cheio de ansiedade e felicidade.
Em seus sete anos, tão gigantesco, questionador, atento.
Com todas as perguntas que ainda vai fazer, e as mais milhões delas que ainda vai descobrir.
Sobre a viagem, a família, Minas Gerais e Paris.
E sobre ele mesmo, claro... Sobre ele mesmo.

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