segunda-feira, 14 de setembro de 2015

macabro

acontece que eu tenho sonhado muito com a minha passagem desta pra uma melhor.
sério.
a morte não me assusta. nem um pouco.
mas venhamos e convenhamos que a morte que deveria ser só minha, não é.
tenho família, marido, filho, dois cachorros de idade avançada, meus pais, amigos, enfins.
gente paca que vai ficar aí chorando.
por um dia ou dois, mas vai.
e esse negócio de morte mexe com a gente que é mãe.
aí que essa madrugada, depois de mais um episódio de final de temporada vital desta que vos tecla, me fiz a seguinte pergunta:

o que eu gostaria que isaac não esquecesse a meu respeito.

da mãe chata que ainda sou?
da louca que fala sozinha?
da mais legal do universo que finge não ver as tarefas mal feitas?
da triste?
da alegre?
da explosiva?

sinceramente?
não sei.
aí me pus a mentalizar uma carta pra deixar pra ele.
uma bem feitinha, cheia de amor e carinho, de força, de sentido.
abri o coração pra mim mesma.

e, de certa forma, a tal da carta vai sair sim, e será muito bem encaixada num futuro distante, mesmo comigo vivinha da silva.
e se não estiver, também tá valendo.
mas o que achei mais interessante é que eu quero mesmo deixar pro isaac como é que eu era quando ele era criança.
como é que eu enxergava tudo, das coisas que ele nem dá tanta bola hoje, mas que vão fazer diferença master na vida dele, ou dos filhos dele, ou dos netos dele.
(e de quebra vai explicar muita coisa pra mulher dele)
quero registrar coisas só nossas, aquelas que eu vou adorar que ele leia pra mim qdo minha memória já estiver corroída pelo tempo.

parece triste pensar assim, mas não me abalo.
é uma maneira de deixar o tempo cumprir seu papel sem brigar com ele.
a gente vai envelhecer, é fato.
a gente pode morrer, é certo, e mais certo ainda que não há data para o ponto final.

vivemos.
vivamos sim e felizes.
pensando na morte e na vida.
ao mesmo tempo sim, pq não???



sexta-feira, 11 de setembro de 2015

da mãe que pensa, sofre, senta, chora e levanta, dança, grita, ri, vira cambalhota.

pois é.
ser mãe é ser bipolar.
ou tripolar.
ou quadripolar.

tenho aprendido no todo dia.
e mais importante, estou - aos poucos, diga-se bem - conseguindo lidar com tudo isso.

sim.
corro o risco de ser só comigo.
de a bipolar mesmo ser eu, não a maternidade.

só que acontece que eu comecei a chamar a maternidade de montanha russa desde que me vi grávida.
então, tenho pra mim que é tudo um conjunto.

e eu não falo de bipolaridade com preconceito.
falo pq eu tenho me analisado e, numa tarde, eu consigo ir de música clássica a heavy metal sem nem perceber.

explodo de raiva ao mesmo tempo que me encolho ao mesmo tempo que explodo de orgulho pelos feitos do isaac.
choro ao mesmo tempo que rio ao mesmo tempo que dou bronca ao mesmo tempo que dou cambalhotas.

desenho animado, cara amiga?
não.
eu, sendo eu mesma, sendo a mãe em que me desenvolvo.

lógico que eu inflo a loucura toda aqui pra dar graça.
mas é assim que me vejo.

semana passada saí correndo da sala e me tranquei no banheiro para derrubar duas lágrimas.
sim, choro na frente do isaac sim, ele tem uma mãe humana e sabe disso.
mas eu corri pro banheiro pq eu não ia saber explicar o motivo das duas lágrimas.
então me tranquei mesmo pq na hora me pareceu mais fácil.

aí, veja você, esta madrugada tive uma revelação.
estar entregue a todos os sentimentos ao mesmo tempo é quase que uma exigência nesse ramo.
o de criar filhos.
um plus curricular.
explico.
melhor, pensa na cena:
você lá, com a cria, toda trabalhada na música alegre, feliz, dançante, todo mundo girando e rodando pela sala até que o menininho começa a pular no sofá.
e a festa continua.
até que o menininho lindo resolve que subir no parapeito da janela é a nova moda.
incrementada pelo salto mortal triplo direto nas almofadas.
e aí? faz o quê?
mantém a vibe?
segura aloka e finge que não viu?

ãhã.
eu não sei você, mas eu observei a primeira, a segunda, a terceira, a quarta rodada de pulos.
e em todas elas acompanhada daquela vozinha dizendo "vai dar merda, vai dar merda, vai dar merdaaaaaaaa".
ouvi a vozinha, mudei a música, sentei no chão com a mão na cabeça e dei um grito interno.
antes do externo, claro.
que saiu assim, como se fosse liberto de uma década de isolamento.

deu pra entender?
só pra completar o raciocínio... depois do grito, logico que corri pro abraço, beijei, até sorri.
mas um segundo depois estava séria, olho no olho, dissertando sobre as consequências ortopédicas de uma queda.

né?

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails