terça-feira, 15 de dezembro de 2015

esse velho aí não existe

das loucuras dessa vida, a maior - creio eu - é esquecer que o tempo passa, e junto com ele a inocência e as gracinhas infantis.
isaac ainda é criança. sim. sim.
mas não é mais um bebezinho.
nem um menininho fácil de enganar.

acontece que no começo do mês ele veio falando sobre os presentes de natal.
e eu, toda desatualizada, perguntei sobre a cartinha que ele escreveria ao noel.
e tomei, claro:

- eu sei que não é ele que traz os presentes.

ploft!
momento drama da mamãe.
aquele mimimi todo que vocês já conhecem.
logo pensei que com sete anos eu já tinha mandado o bom velhinho à merda.
então, tudo bem.

bom,
e como vocês tbm me conhecem, eu não deixei quieto:

- e quem é que traz os presentes, isaac?

- uma pessoa vestida de papai noel, ué.

- uma pessoa qualquer?

- é. um desconhecido.

- alguém que não te conhece?

- é.

- e traz um presentaço pra vc no natal?

- é.

ploft!
momento mãe lokalokaloka.
pensei em cooooooomo meu delllllssss!!!! essa criança, nesse mundo louco, cheio de perigos, poderia i-ma-gi-nar que um estranho pode ser legal a ponto de dar um presente pedido e aguardado durante o ano toooodoooooo??????
bora destruir esse conceito aí, minha gente.

bom,
não sei se fiz certo. não se se deveria, mas cortei aí.
expliquei com calma, com amor e paciência... fui conversando até ele mesmo chegar a conclusão de quem, na real dava os presentes a ele.

senti sim a decepção.
fui olhada daquela maneira que arrepia, sabe?
daquele jeito "sua velha cruel, mentiu pra mim durante tooodos esses anos????".

mas ó, passou.
mas passou assim:

- mãe, então se antes eu ganhava um presente do papai noel e um de você e do papai.... agora vocês vão me dar DOIS presentes?????

né?

sábado, 14 de novembro de 2015

O acabar do mundo.


Se minha vozinha estivesse viva e um tanto lúcida acredito que choraria dias ao ver o absurdo que aconteceu com a Vale em Minas Gerais.
E digo mais, morreria perguntando os motivos ao seu Deus, todas as noites, orando pelo Rio Doce.
Grande mulher. Repetiria "o mundo está acabando, que pena".
Chego a ser egotista a ponto de dizer um "sorte a dela" ter-lhe a morte poupado dessas coisas.
Sobre Paris? Sobre os atentados? Sobre o terror?
Diria que Dona Eliza ergueria os ombros e seria prática "esse tudo acontecendo aqui e vocês buscando problemas lá do outro lado do mundo?".
Mas acontece, vó, se a senhora estiver me ouvindo, o mundo não é mais tão pequeno.
Ontem mesmo eu respondia, em uma prova, pergunta sobre o Charlie Hebdo. E sinto até hoje um arrepio na espinha.
Outro dia mesmo eu lamentava sobre os refugiados.
Ainda vivo indignada com os subnutridos.
Achando a Rússia uma loucura.
Estão essas questões, cada uma delas, em outros lados do mundo. E como esse mundo agora é pequeno.
Pra você ver...
Seu bisneto ontem bateu as asas, sua primeira viagem sem os pais.
Foi pra longe, mas nada que algumas horas de avião não resolvam.
Se der saudade?
Skype, WhatsApp, SMS, messengers, tudo num clique.
Se acontecer algo?
Se ele ficar doente?
Se ele quiser vir embora?
Ora, vó, a pediatra está online e a vida é assim mesmo.
Com certeza ela me reprovaria e diria algo sobre criação dos filhos "eu trabalhava demais, mas vocês hoje, não tem limite. Lógico que ele nem vai sentir saudade, passa muito tempo longe de vc."
Sim. Eu choraria alguns dias pensando nisso. Pensando muito.
Mas voltaria a ficar horrorizada com o noticiário. E depois mais horrorizada ainda sabendo que ele não me mostrou tudo o que deveria.
Mais mais horrorizada por pensar que há gente nesse mundo pequeno que vive satisfeita com essas verdades incompletas.
E vem aquele cisco de felicidade.
Um cisco meu, em pensar no Isaac.
Lembrar que o estamos educando para ser diferente.
Para não ficar preso a lugares, nem ideias, nem não-verdades.
Me veio o rostinho dele ontem, cheio de ansiedade e felicidade.
Em seus sete anos, tão gigantesco, questionador, atento.
Com todas as perguntas que ainda vai fazer, e as mais milhões delas que ainda vai descobrir.
Sobre a viagem, a família, Minas Gerais e Paris.
E sobre ele mesmo, claro... Sobre ele mesmo.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

as voltas que o mundo dá, o feminismo e a doce arte de educar uma criança...

título longo, eu sei...
mas não consegui resumir, nem pensar em um melhor.
mas vamos lá... organizar as ideias.

acontece que aos sete anos eu ia sozinha ao supermercado.
com a mesma idade eu já era capaz de deixar louça lavada, cozinha arrumada e tarefa feita.
já lia e escrevia meus livros, fazia capa e tudo.
ia pra escola a pé sem reclamar.
já sabia que ônibus tomar, contar os dinheiros e solicitar o troco caso faltasse.

certeza.
a geração antes da nossa não estava a fim de criar bundões.
seja lá por qual motivo, a educação a base do olhar de repreensão, das ocasionais chineladas e dos temidos "vai lá no meu armário e pega a cinta", funcionou.
bom, pelo menos pra mim.

mas acontece também que o tempo passa, as cabeças pensantes e influentes se transformam, a tecnologia avança e penso eu agora que virei bundona.
em algum momento, com algum sentido, me perdi na coisa toda.

hoje sou eu quem cria um filho de sete anos.
que reclama para ajudar em tarefas simples do cotidiano.
que nem imagina uma realidade onde ele lave o próprio copo.
vá lá limpa a própria buzanfa sem achar aquilo um absurdo.

e eu fico me perguntando em que momento da vida a coisa desandou...
como é que eu não segui com os ensinamentos passados pela minha vozinha e depois minha mãe.
que tipo de ser eu acho que vou deixar pro mundo.
um bundão feliz?
um egoísta?
um infeliz de tão feliz?
uma daquelas criaturas que se frustram por ter que colaborar?

mas mesmo me fazendo uma infinidade de perguntas eu não desisto.
é lógico ser mais fácil ir lá pegar o copo, dar dois passos e colocar na pia do que desfiar um sermão sobre a contribuição e convívio em sociedade, mas eu não me poupo.
falo sobre a vida, sobre tudo o que significa ter a atitude de pegar o copo que usou e levar até a pia.
o copo, o prato, os talheres e o guardanapo, que deve ser jogado no lixo reciclável.

ainda tem o tênis, a mochila, os brinquedos.
os horários e compromissos.
o banho sem demora, a roupa limpa, a suja, a cueca longe do chão.
enfim, as responsabilidades.
que já existem sim, e eu não as ignoro.
não deixo que isaac esqueça também.
oras.

eu não esquecia.
e olha que tinha sete anos.
ai de mim se precisasse de supervisão adulta para as responsabilidades que faziam meus dias na época.
eu mesmo me cobrava em ajudar, já que minha mãe trabalhava o dia todo... nem passava pela minha cabeça dar mais trabalho a ela.

não quero viver de extremos.
não quero ser igual a minha mãe.
mas também não quero ser tão diferente assim.
quero mais é que o mundo dê voltas e voltas e volte de novo, pois acho que assim também se aprende.

e como é que pensei nesse texto?
olhei meus cintos no armário esse final de semana e gelei ao pensar se todas aquelas taxas e fivelas enormes morassem no armário da minha mãe em 1986.

...



quarta-feira, 7 de outubro de 2015

vivendo e ensinando e aprendendo (como o consumismo acontece lá em casa)

está ele lá.
isaac parado, só de cueca, em frente ao espelho:

- sabe, mãe, eu não entendo.

(antes de eu me apavorar imaginando todas as questões que envolvem um menininho de 7 anos, cuecas e espelhos, fui traída pela minha própria língua e pensamento rápidos)

- o que você não entende, isaac?

ele coloca as mãos na cintura, mira bem a cueca, o pipi, sei lá, a parte de baixo:

- esse negócio das cuecas, mãe.

(pronto. agora ele vai querer andar com o pássaro livre. só pode)

- como assim?

ele pega no pipi, bem na frente, bem menino, bem sei lá. não consigo explicar.

(e já começo a pensar num bom motivo de eu não ter mandado ele vestir logo a bermuda)

- eu não sei pq eles colocam esses desenhos de personagens na cueca.

(respondo um pouco aliviada, só que não. isaac sempre tem questões surpresa guardadas na manga)

- não sabe?

- é não sei. pq, ó, veja bem...

(iiiiii, o veja bem, me lasquei)

e deixo ele continuar, olhando firme seu reflexo no espelho.

- se a cueca fica escondida, pq é que ela tem que ser bonita ou ter o personagem. só eu que vou ver...

- entendo sua dúvida, filho... entendo.

- então, mãe, não é sem sentido????

(e lá vamos nós)

- sim, se a gente pensar dessa maneira, sim... mas eu vou te explicar um sentido mais triste.

- triste?

(só pensei nessa palavra, foi mal)

- é. triste. vc sabe pq eles colocam os personagens nas cuecas?

- não.

- pra mães bobas, como eu, irem na loja, pensarem nos seus filhos fofos, e gastarem o dobro do dinheiro num pacote de cuecas só pq há um personagem nela.

- cueca com desenho é mais cara?

- sim, amor, bem mais cara.

- e vc comprou?

(aí eu já estava jogada no chão, me achando a pior das criaturas)

- comprei, filho, pq na hora a tonta aqui só pensou em como vc curte assistir a esse desenho. e comprei.

- hummmm ...

(ponderou ele, com uma cara de pena, que deu pena de mim)

- é isso que as empresas fazem, isaac, nos enfiam produtos que não precisamos.

- como exemplo, cuecas com desenhos que ninguém vai ver.

- isso.

- ó, mãe, eu não preciso de cueca com desenho. é legal, mas tudo bem usar cuecas lisas.

(ploft! só não morri alí pq se o papo rolou eu devo estar acertando em alguma coisa)

- que bom filho, que vc entende assim.

(aí acho que ele percebeu a cara de "puta que paril! que merda! como eu pude me render as cuecas estampadas e licenciadas???? que caralho de mulher/mae/ser humano sou eu????)

- mãe, olha aqui na gaveta.... eu tenho muitas cuecas lisas. olha!

se certificou de que eu realmente estava olhando na gaveta, sorriu e saiu, correndo atrás do cachorro.

...

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

macabro

acontece que eu tenho sonhado muito com a minha passagem desta pra uma melhor.
sério.
a morte não me assusta. nem um pouco.
mas venhamos e convenhamos que a morte que deveria ser só minha, não é.
tenho família, marido, filho, dois cachorros de idade avançada, meus pais, amigos, enfins.
gente paca que vai ficar aí chorando.
por um dia ou dois, mas vai.
e esse negócio de morte mexe com a gente que é mãe.
aí que essa madrugada, depois de mais um episódio de final de temporada vital desta que vos tecla, me fiz a seguinte pergunta:

o que eu gostaria que isaac não esquecesse a meu respeito.

da mãe chata que ainda sou?
da louca que fala sozinha?
da mais legal do universo que finge não ver as tarefas mal feitas?
da triste?
da alegre?
da explosiva?

sinceramente?
não sei.
aí me pus a mentalizar uma carta pra deixar pra ele.
uma bem feitinha, cheia de amor e carinho, de força, de sentido.
abri o coração pra mim mesma.

e, de certa forma, a tal da carta vai sair sim, e será muito bem encaixada num futuro distante, mesmo comigo vivinha da silva.
e se não estiver, também tá valendo.
mas o que achei mais interessante é que eu quero mesmo deixar pro isaac como é que eu era quando ele era criança.
como é que eu enxergava tudo, das coisas que ele nem dá tanta bola hoje, mas que vão fazer diferença master na vida dele, ou dos filhos dele, ou dos netos dele.
(e de quebra vai explicar muita coisa pra mulher dele)
quero registrar coisas só nossas, aquelas que eu vou adorar que ele leia pra mim qdo minha memória já estiver corroída pelo tempo.

parece triste pensar assim, mas não me abalo.
é uma maneira de deixar o tempo cumprir seu papel sem brigar com ele.
a gente vai envelhecer, é fato.
a gente pode morrer, é certo, e mais certo ainda que não há data para o ponto final.

vivemos.
vivamos sim e felizes.
pensando na morte e na vida.
ao mesmo tempo sim, pq não???



sexta-feira, 11 de setembro de 2015

da mãe que pensa, sofre, senta, chora e levanta, dança, grita, ri, vira cambalhota.

pois é.
ser mãe é ser bipolar.
ou tripolar.
ou quadripolar.

tenho aprendido no todo dia.
e mais importante, estou - aos poucos, diga-se bem - conseguindo lidar com tudo isso.

sim.
corro o risco de ser só comigo.
de a bipolar mesmo ser eu, não a maternidade.

só que acontece que eu comecei a chamar a maternidade de montanha russa desde que me vi grávida.
então, tenho pra mim que é tudo um conjunto.

e eu não falo de bipolaridade com preconceito.
falo pq eu tenho me analisado e, numa tarde, eu consigo ir de música clássica a heavy metal sem nem perceber.

explodo de raiva ao mesmo tempo que me encolho ao mesmo tempo que explodo de orgulho pelos feitos do isaac.
choro ao mesmo tempo que rio ao mesmo tempo que dou bronca ao mesmo tempo que dou cambalhotas.

desenho animado, cara amiga?
não.
eu, sendo eu mesma, sendo a mãe em que me desenvolvo.

lógico que eu inflo a loucura toda aqui pra dar graça.
mas é assim que me vejo.

semana passada saí correndo da sala e me tranquei no banheiro para derrubar duas lágrimas.
sim, choro na frente do isaac sim, ele tem uma mãe humana e sabe disso.
mas eu corri pro banheiro pq eu não ia saber explicar o motivo das duas lágrimas.
então me tranquei mesmo pq na hora me pareceu mais fácil.

aí, veja você, esta madrugada tive uma revelação.
estar entregue a todos os sentimentos ao mesmo tempo é quase que uma exigência nesse ramo.
o de criar filhos.
um plus curricular.
explico.
melhor, pensa na cena:
você lá, com a cria, toda trabalhada na música alegre, feliz, dançante, todo mundo girando e rodando pela sala até que o menininho começa a pular no sofá.
e a festa continua.
até que o menininho lindo resolve que subir no parapeito da janela é a nova moda.
incrementada pelo salto mortal triplo direto nas almofadas.
e aí? faz o quê?
mantém a vibe?
segura aloka e finge que não viu?

ãhã.
eu não sei você, mas eu observei a primeira, a segunda, a terceira, a quarta rodada de pulos.
e em todas elas acompanhada daquela vozinha dizendo "vai dar merda, vai dar merda, vai dar merdaaaaaaaa".
ouvi a vozinha, mudei a música, sentei no chão com a mão na cabeça e dei um grito interno.
antes do externo, claro.
que saiu assim, como se fosse liberto de uma década de isolamento.

deu pra entender?
só pra completar o raciocínio... depois do grito, logico que corri pro abraço, beijei, até sorri.
mas um segundo depois estava séria, olho no olho, dissertando sobre as consequências ortopédicas de uma queda.

né?

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

festa do pijama. eu sobrevivi.

Festa de aniversário.
Lógico que Isaac queria uma.
E no capricho.
Combinamos então que seria uma bem simples, já que depois de alguns anos trabalhando no ramo festeiro e pirando nas festas do filhote, eu queria mesmo era economizar e voltar a ser a mãe-só-jornalista.
Ele topou. ótimo.

Isaac vinha pedindo uma festa do pijama.
Queria os amigos passando a noite em casa.
Eu achei válido e viável.
Achei uma graça até.
E topei. ótimo.

(Vou contar como foi então, para vc, cara amiga de olhos assutados, ver que é legal sim.)

Pedi então que ele escolhesse dez amigos.
Lista restrita e íntima, deixei claro.
Expliquei que sendo mãe de filho único, acumulando experiência de convivência com grupos apenas com meus alunos de radialismo, não dava pra permitir que tooooodos os colegas viessem dormir em casa.

Delícia.
O planejamento se restringiu a comidinhas, docinhos, brincadeiras, cineminha e colchões.
Arrastamos os móveis da sala.
Vovó querida veio ajudar.

Contratei uma equipe para recreação.
Muito bem pensado e super recomendo, já que entreter 15 pequenos durante horas não é lá tão fácil.
O cardápio de salgadinhos e pão de queijo foi servido de uma vez, quando todos foram chamados para que se sentassem e comessem, tudo quentinho.
Confesso que eles se acharam ao sentar na mesa de jantar, com pratinhos e copinhos e tudo "como de gente grande".

Enquanto eles voltaram a brincadeira eu organizei todos os colchões com travesseiros e cobertas, cada um no seu lugar.
Irmãos dormindo próximos, meninas, meninos, tudo pensando na maneira mais neurótica-mãe-de-ser.
Mentira, eu queria é que fosse super divertido pra eles, sem probleminhas nem brigas.

Cantamos Parabéns e eles voltaram para mais uma sessão de brincadeiras.
Aliás, sou fã da equipe que me ajudou pq eles fazem aquelas brincadeiras das antigas, que a gente brincava na rua.
Lindo de ver.
Amei a galerinha pulando corda e andando de perna de pau no quintal de casa.

Chamei o grupo das meninas e fila pra escovar os dentes!
Enquanto elas foram colocar pijaminhas, os meninos foram pro banheiro.
Engraçado ver a diferença entre eles.
Super experiência!

Todo mundo lindo, empijamado, votação pro filme do cinema!
Cada um na sua caminha, filme na TV.
Aí fui vendo cada um no seu tempo, se encaixando, arrumando, apagando, dormindo...

Dormi com a galerinha no chão da sala, claro.
Abracei bem agarradinho o pequeno que pediu a mamãe de madrugada (e eu decidi por não ligar pois me senti super segura em acalmá-lo durante a noite).

Levantei cedo, já deixei a mesa do café da manhã pronta.
E pronto!
O primeiro que acordou, agitou geral e em meia hora estavam todos de pé, circulando pela casa.
Sentaram, comeram, uma graça.
E foram ajudar Isaac a abrir os presentes.

Dalí foi só trocar a galera e esperar as mamães saudosas.

Conclusão:
Faço de novo e faço feliz.
Explico.
Quando eu contava que iria mesmo fazer a tal festa do pijama recebia olhares assustados como se aquela fosse a maior loucura que uma pessoa poderia cometer na vida.
Sabia que ia ser trabalhoso, que corria vários riscos com tantas crianças sob minha responsabilidade, mas mesmo assim via a vontade do Isaac.
Além disso, via feliz e saltitante, ele querer ter os amigos num espaço que é quase só dele, passar o tempo com eles, dividir a casa, o lençol, os pais, a avó e os cachorros.
Enquanto pude observei as reações dele e era uma felicidade tão pura, tão simples.
Os amiguinhos tão se sentindo em casa, tão alegres...
Valeu super a pena.
Cada detalhe, cada momento, cada foto tremida, cada "tiiiiiia".

Enfim, sobrevivi pra contar, e te incentivar, viu?
Vale a pena.


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Sete anos

Pois é, minha gente.
Isaac fez sete anos.
Ontem.
E eu não escrevi este post ontem pq não era dia.
Além do óbvio motivo de que eu queria mais era viver e reviver ao vivo todos os momentos possíveis do dia dele, eu tenho um motivo meu.

Eu conheci Isaac assim, mesmo mesmo, de fora pra dentro, no dia 26.
Como assim?
Explico.
Lógico que cheirei a cria e sorri pro meu filho assim que ele foi retirado da kitinete quentinha que dividia com todos os órgãos vitais desta que vos tecla, mas depois dormi e só fui subornar enfermeira pra ter o pequeno nos braços na madrugada, quando me recuperei da anestesia.
Ou seja, comemoro o dia de hoje tanto quanto o ontem.
E sim, Isaac nasceu de uma bem sucedida cesárea, numa limpa e esterilizada sala cirúrgica, com uma mãe feliz e amarrada pelos braços, cheinha de anestesia.
Nasceu assim, como devia e podia, diante das informações e possibilidades que eu tinha na época.
E sim, foi para o berçário hospitalar, ficou aos cuidados de gente que não era eu.
Foi assim, como devia e podia, diante das informações e possibilidades da época.

Saca?
Um dia comemoro a vida. E no outro, as minhas reflexões sobre aquele começo de semana.
Aquele começo de tudo.

Vc deve estar me perguntando: E então pq raios esse post de aniversário não é daquelas poesias melosas e sobrecarregadíssimas de amor que vc faz todos os anos?

Respondo: Como não? E tem mais amor do que ser verdadeira e celebrar o tudo que nasceu em mim naquele dia 26?
E com mais amor ainda, já inicio neste espaço aqui tudo o que Isaac vai ouvir um dia, toda a briga do natural versus o cirúrgico, do humano versus o desumano, do certo versus o errado, do menos versus o mais.
Do radicalismo que mora em todos os lados, em todas as conversas, em todas as esferas.
E tenho cá pra mim, que o amor que tenho pelo meu filho, também me permite explicar como isso atrapalha, diminui, anula e cancela.

Puxa! E como um post de aniversário, transbordando de amor virou isso?
Bom,
prometi a mim mesma que este texto em especial não teria rascunho.
Seria um cuspe bem cuspido no monitor. Sem lencinho pra limpar.
E depois que, estou sob forte influência do menininho loiro de agora sete anos que me chama de mamãe.
Isaac, hoje, é um ser completo.
Lógico que nas proporções que lhe cabem, mas ele vive na realidade.
Logico que durante os momentos em que feiticeiros, dinossauros e super heróis não estão em alguma aventura.
Isaac conversa com a gente de maneira que eu demorei muito pra fazer com os meus pais.
Isaac mudou e anda de cabeça erguida, defende seu ponto de vista, sorri e abana a mão pros amigos.
Isaac lê, escreve, soma, subtrai e multiplica.
Além das contas matemáticas, mais um monte de outras coisas que só vai entender quando passar dos um metro e meio de altura, acredito.
Ele é uma pessoa teimosa e implacável quando quer ser.
E fala o que tem vontade.
E se sabe que é coisa forte, apenas alivia começando com a frase com "não se ofenda, mas....".

Eu não poderia desejar outra coisa a ele. Que não seja continuar assim.
Verdadeiro e complexo.
Teimoso e sedento por aprender tudo o que puder.

Aos sete.



segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Nave Mãe

ser mãe.
tarefinha delícia porém cheia de vírgulas.
satisfação plena porém repletas de tempestades de cuspe.
um ensinar e aprender infinito.
ok.
sabemos.

e estava eu outro dia conversando com isaac sobre a vida.
jogo bem a real.
digo que ela não é fácil.
que se a gente não ter paciência a gente sofre.
que egoísmo é uma arma que usamos contra nós mesmos.
que gentilezas são necessárias para quem escolhe viver em sociedade.
e que, principalmente, ouvir os pais é importantíssimo.

tá.

ele logo pergunta se estou dando bronca.
digo que não.
mas que as vezes a gente precisa ter umas conversas mais sérias.
que eu preciso muito ensinar para ele algumas maneiras de se virar com o mundo.
de crescer num caminho legal.
que vou contando como aprendi pra ele mesmo saber o que fazer.

ãhã.

ele logo muda o assunto para video games, peças de montar e filmes de ação.

ok, vamos juntos, passo a passo.

e ele logo questiona sobre a palavra mãe estar tão presente em tudo.
a língua-mãe. explico.
a placa-mãe do computador. explico.
ele pergunta, pergunta, pergunta.
e eu, toda tonta, falo sobre a nave mãe.
a do jogo eletrônico querido.

- a nave mãe é aquela que protege as outras naves menores.

- nããããão, mãe. não, né?

- não??? então o que ela faz?

- a nave mãe é aquela que QUER controlar tudo.

(e me olhou com aquela cara de "e não controla bosta nenhuma")

ok.
mudança de comportamento! ATIVAR!!!!!

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O dia em que o Zé Ramalho me passou uma rasteira

Sabem,
eu tenho um relacionamento ótimo com o som do meu carro.
somos amigos, somos parceiros.
conversamos, cantamos, nos divertimos juntos.
e sim.
sou aquela louca que para do seu lado no semáforo e mesmo assim continua cantando e dançando como se você alí não existisse.
eu empolgo.
e nem ligo.

bom,
acontece que dia desses estava eu toda trabalhada nas letras lindas do Zé Ramalho.
curti, boa parte do dia.
linda, feliz, cantando.

aí vou buscar isaac na escola e o Zé, lá, soltando a voz.
e eu também.
avôhai!!!
pego filhote, coloco no carro, converso sobre o dia e continuo a cantoria.
até que Zé me sacaneia, me joga pra serpente, me deixa no silêncio.
e do banco de trás escuto, com voz curiosa:

- mãe, o que é sexo????

pronto. não há cogumelo que salve esse momento.

- oi? sexo? ouviu onde filho?

- ué, você acabou de falar que sexo é assunto popular.

me imaginem alí, estabacada, caída de cara nesse chão de giz.
pensei, com aquele poder da "fração de segundos" que toda mãe tem.
analisei.
arrepiei.
mas, né?
que jeito?

- olha filho, sexo tem vários significados...

e ele alí, me encarando pelo retrovisor.

- hum?

- sexo é uma maneira de namorar que só os adultos podem fazer.

- tá bom.

e voltou pra janela, onde leu uma placa de trânsito.
achei estranho ele não questionar os "outros significados" mencionados pela doida aqui.
logo ele se vira e manda:

- mas mãe....

antes dele formular nova pergunta eu lembrei de uma amigo contando sobre a fatídica pergunta do filho e copiei, rápida no gatilho:

- e sexo também é se você é menino ou menina.

- ?????

- eu sou do sexo feminino e você é do sexo masculino.

e claro, engatinhei brincadeira pra ele esquecer do outro significado por um tempo, tipo uns OITO ou NOVE anos:

- então o Iron é de que sexo?

- macho!!!!

- e a vovó?

- Feminina?!

- sim! e o papai?

- masculino ou macho?

e lá vamos nós.



quarta-feira, 15 de julho de 2015

quando um balão não é só uma bexiga...

das simplicidades dessa vida, né?
voltemos a falar delas.

isaac faz aniversário em agosto.
eu encerrei minhas atividades no ramo festeiro profissional faz pouco tempo.
continuo sim amando fazer as coisinhas, caprichar nos detalhes, mas agora me limito as festas do filhote.
e lógico, por mais simples e caseiros estejam os planejamentos para as comemorações deste ano, eu estou sim pensando numa lembrancinha para os pequenos convidados.

bom,
mas eu não pude não perceber, que, essa louca dessa vida faz a gente revivê-la.
assim como esse louco desse mundo nos faz dar voltas.
enfim, lembrei eu esses dias, de como a gente amava (num passado distante) quando sobravam bexigas das festinhas.
quando a gente achava alguma esquecida num canto.
ou podia levar uma da decoração pra casa.

vale a comparação.
hoje o que vejo são crianças endoidecidas estourando todas as bexigas possíveis antes do meio da festa.
ouvi de um monitor de buffet "elas precisam extravasar" e não consegui segurar a imaginação de que a próxima moda será a de festinhas em academias de muay thai.
e nem a indignação.
se o monitor enxerga assim, crianças endoidecidas enfiando suas pequenas unhazinhas na decoração não seria este um evento isolado.

tá,
voltando...
o que me fez lembrar das bexigas valiosas da minha infância foi uma simplicidade da vida.
explico.
isaac voltou de uma festinha todo feliz com um balão já cheio.
pegou de um centro de mesa, antes de sairmos do buffet.
veio agarrado a ela como se fosse a última bexiga do mundo.
cuidadoso.
deixou num lugar longe dos cachorros e de objetos perfurocortantes (me chamem de louca, mas amo essa palavra...kkkk...acho linda e objetiva... um serviço a informação).
acordou no dia seguinte e me convidou a não deixar a bexiga cair.
ficamos por um bom tempo só curtindo a leveza do momento.
risadas e desafios.
diversão plena, pura, simples.
ensinei a ele alguns nomes ligados ao vôlei.
e ele adorou.

a bexiga preta reinou absoluta lá em casa.
era requisitada a todo momento.

- mãe! topa vôlei de bexiga?

- mãe! agora so vale com os pés!

- agora só com a cabeça!

- agora bem alto!

sorte da danada da bexiga.
aposto que hoje murcha feliz por ter cumprido tão bem seu papel nesta vida.
sorte a minha por ter me entregado as delícias de ter uma bexiga sobre a mesa de jantar, sempre pronta, sempre disposta.
sorte.

e só pra registrar, a danada, continua lá, mesmo que diminuída pela falta de ar, desbotada, no fim da vida, continua me fazendo pensar tanto.
em tanta coisa.
na simplicidade, nas felicidades, na utilidade, nos valores, na velhice, na vida....

danada....

terça-feira, 14 de julho de 2015

as lições de uma mãe que não é a loira do tchan

aaaa.... as férias.
isaac entrou de férias na penúltima sexta-feira.
somemos então, são 11 dias de férias.
e eu tô rebolando, viu, gente?!
trabalho, casa, família, cachorro, papagaio, periquito and filho de férias.
vamos nos ajeitando.
mas longe do desespero que já tive em várias outras ocasiões, esse ano resolvi encarar assim:
isaac já tem seis anos.
sabe muito bem que a mãe trabalha.
e sabe que a mãe não tem férias.
em nenhuma de suas funções.
logo, sentei com ele na semana antes de tudo começar, e expliquei que seria assim.
que eu ia fazer o possível para que os dias fossem felizes e divertidos, mas que ele teria que ter paciência pelas manhãs, enquanto eu daria atenção ao trabalho.
e que alguns dias ele iria passar duas horinhas comigo na rádio.
ou ia ter que ir comigo ao supermercado.
expliquei que tinha coisas que não tinha como cancelar.
ele entendeu.
é lógico que resmungou, fez manha, mas tem entendido muito bem.
então ele dorme até não aguentar mais de manhã enquanto eu organizo o dia da casa e adianto o noticiário.
se vem comigo pra radio, já vem com kit sobrevivência a momentos chatos.
mesmo assim, tem sido um baita (e feliz) parceiro de estúdio. escolhe as músicas, ouve das notícias as palavras que lhe interessam, uma graça.
e a tarde, como de costume, sou dele.
tenho rebolado pra achar o que fazer, amigo pra chamar, tudo.
mas o mais importante é que, nsstas férias, estamos nos ensinando uma lição das mais importantes:
(atenção! foi o que aprendi esse ano, nessas férias, aliás, nesse início de férias)
que, em alguns casos - principalmente se vc não for a loira do tchan ou fã de passinho - rebolar tanto pode não ser uma boa.
eu aprendi que, as vezes, é importante ouvir o vento, sentir o sol, passar hora brincando de não deixar a bexiga tocar o chão.
pq, as vezes, quem rebola acaba descadeirado.

...


segunda-feira, 6 de julho de 2015

pensamentos de quase-mãe*

*eu ainda me considero quase-mãe...
talvez eu me ache inteira-mãe um dia, mas por hoje, engatinho.
só que meu status é outro.
de acordo com as leis sociais e toda a burocracia, pari um dependente, tenho 01 filho do sexo masculino, menor de idade.
sei disso tudo.
e não uso o quase-mãe no sentido depreciativo.
uso pq acho que ainda há muito a se aprender.
bom, mas a questão é que eu tenho um capítulo na minha vida, que eu chamo de quase-quase-mãe.
eu não me considerava tentante, eu não me considerava mãe em potencial.
eu me achava mesmo uma azarada de carteirinha.
eu não conseguia ovular.
depois eu ovulava e não conseguia engravidar.
depois eu engravidava e não conseguia permanecer em tal estado de graça.
num looping.
duas vezes.
e como bônus, cirurgias, curetagens, toda a sorte de chatice hospitalar.
além disso, as pessoas me olhando com aquela carinha de cocker spainel asmático, isso sim me matava.
passou tempo pacas, eu sei.
até hoje aprendi muito (muito mesmo) sobre mim, meus limites, meus sentimentos, a força que tenho, sobre o poder e o controle que habitam nesta gordinha aqui.
fui presenteada com o menino mais bacana do universo. tenho a sorte e o prazer de educá-lo.
não me acho mais a azarada de carteirinha.
mas ainda me encontro com os pensamentos da época.
eles retornam.
me assombram.
e as vezes, até me acalentam.
é confuso sim, mas existe.
acontece que a gente supera, só que não.
a gente esquece, só que por um tempo.
entende, digere, mas nem tanto.
e vez ou outra se pega pensando em tudo aquilo.
como se fosse o capítulo de um livro de história, mas doído de ler.
eu passei muito tempo tendo raiva de mim. me achando com defeito.
me sentindo incompleta. um ovo podre.
achando que era uma dívida alta a ser paga.
e ainda gasto (ou perco) um tempo com isso.
vendo os segundos filhos.
vendo barrigas grávidas.
vendo TV.
não é inveja. não é mesmo. é uma coisa estranha.
fico muito satisfeita em ver a família alheia.
não tenho vontade de que a minha aumente.
acontece que eu fui marcada por essa fase.
profundamente.
fui marcada de uma maneira que só eu consigo entender. e eu mesma não consigo explicar.
eu sei que aprendi a lidar com essa carol que ainda mora aqui.
bem no fundinho, mas mora.
que as vezes aparece, mas some de novo e hiberna.
que me coloca no fundo do poço mas também me resgata de lá.
uma carol sozinha, sabe?
que suspira, se deixa chorar, mas se assusta.
e se esconde.

...


segunda-feira, 29 de junho de 2015

a fase, a coisinha mais fofa desse mundo, a mãe louca e quase normal, fim?

pode ser que o tempo cure tudo mesmo.
pode ser que isaac tenha assustado com as minhas reações e resolvido mudar o comportamento.
pode ser que seja aquele lance de fase.
pode ser que, após minha cota de boas ações cumpridas, seres superiores tenham resolvido me dar um tempo.
pode ser que alienígenas tenham ouvido meus gritos dramáticos e tenham abduzido criaturinha que habitava neste lar.

pode ser um tudo. ou de tudo um pouco. ou tudo ao mesmo tempo agora.
maaaaas acontece que isaac agora acorda sorrindo para mim.
me abraça e diz que me ama.
me ouve.
responde quando chamo.
tá a coisinha linda da mamãe.

lógico e claro que nem tudo é 100%.
mas, levando em consideração todo o lance da personalidade, mais as liberdades de expressão e pensamento que demos ao pequeno, tá tudo lindo.

passamos o domingo tão bem, tão concordando, tão rindo juntos, que ó, tô me achando a mãe mais bacana do planeta.
e mais, aquela que tem o filho mais cuti cuti de todos.
ele ir comigo ao mercado, a padaria, ao raio que nos parta.
tudo sem resmungar.

dá medo?
sim. muito.
mas digamos que, mesmo sabendo que essa fase colorida também vai passar, vou me entregar a ela, deixar me iludir, e chorar depois.
pq, né, tô aqui pra isso.

e tô aqui também pra reconhecer que, amigas, eu tenho as minhas fases.
eu tenho meus momentos descoloridos.
ou só colorido de cores berrantes, irritantes e bravas.
e isaac me aguenta.
tem que.
então, já que somos todos feitos de beleza e feiura, doçura e amargura, tensão e leveza, vamos que vamos.

vamos até o próximo momento loucura ou próxima descoberta.

ótima semana pra nós, estável ou não.

bjo




quarta-feira, 24 de junho de 2015

muito caldo de cana passou por baixo dessa ponte...

sei que o negócio da garapa é assunto antigo.
mas acontece que eu tô nesse negócio aqui pra registrar meus aprendizados na maternidade.
e a história do caldo de cana me mostrou muita coisa.

da parte otimista é que meu filho é pessoa generosa, está super entrosado com a comunidade escolar e tem feito uma força incrível contra a sua timidez.
continuando, vi também que eu sou mãezona.
sim, tenho um monte de gente que vive falando isso.
sem me achar, sério, a maioria delas fala com espanto. daquele jeito "nunca imaginei" ou "quem te viu quem te vê".

outra coisa, é que, ao contrário a mãe que eu vinha sendo, isaac está me enfiando nos assuntos escolares também.
e levar caldo de cana pra galera me rendeu alguns bônus.
mais papo com as professoras, mais papos com a secretária da escola (que já são umas graças, registremos), mais piadas para contar pras amigas.
lógico que minha saga enlouquecida atrás da garapa perdida virou um causo daqueles.

tudo muito bom tudo muito bem.
ok.
mas também aprendi que, com toda essa cana, tenho mesmo é que ficar mais esperta.
digamos que, o próximo tema a ser estudado pela turminha do primário seja os grandes mamíferos africanos, ou aranhas venenosas, ou culinária francesa, ou interceptores de esgoto...

né?

sexta-feira, 19 de junho de 2015

simples assim

eu não costumo ser daquelas que resolve tudo da maneira mais simples.
as vezes sim.
as vezes me embaralho nas armadilhas que eu mesma crio.
e vou vivendo.
e aprendendo.
e tomando na cabeça.
coisas da vida.

acontece que eu tenho o prazer de, em alguns dias, dividir minha mesa com uma menininha linda.
oito anos.
esperta que só ela.
e ela senta aqui comigo.
enquanto eu sou a louca das notícias ela chora pela chatice das tarefas escolares.
e a gente se diverte.
eu tento (como tento bravamente com isaac em casa) ensiná-la, além das multiplicações e sílabas, que a gente tem esses compromissos mesmo e não dá pra fugir deles.
ela ri.
ri de mim, a danada.
e me ensina também.
sabe como?

- nossa, carol, pq vc pintou sua unha de vermelho?
- ah, eu adoro vermelho, vc não?
- vermelho é sua cor preferida?
- não. é azul. mas eu gosto de vermelho tbm.
- hummmm
- e a sua cor preferida, qual é?
- minha cor preferida é arco-íris.

simples assim, né?
e pq não?


quarta-feira, 17 de junho de 2015

a.k.a. garapa

aí vc, cara colega, que me acompanha já faz tempo, imagina como é que eu não fiquei quando isaac chega da escola ontem, mais melado que melado, dando a seguinte notícia:

- mãe, eu disse lá na minha sala, que eu vou à feira com o vovô e vou levar caldo de cana para todo mundo experimentar.

te dou, então, algumas alternativas, e vc tenta descobrir qual é que foi a minha reação:

a) gritei um PUTA MERDA! daqueles, pensando em onde é que eu ia arrumar garapa fresquinha pra adoçar 25 boquinhas;
b) amaldiçoei todo o ensino de história do brasil e seu desenvolvimento econômico baseado na cana-de-açúcar;
c) segurei o grito, sorri achando lindo ele ter lembrado do vovô, e mesmo não gostando do tal suco de cana, pensou em oferecer aos amigos;
d) já me enfiei no calendário de feiras da cidade, achei a mais próxima e tracei logística para buscar e entregar a garapa em tempo recorde para que fosse apreciada fresca pela geralzinha;
f) antes de dormir, fiz meu momento drama queen, ó vida ó céus, como é que eu ia resolver e cumprir a promessa alheia;
g) chorei tanto que nem sei pensando nas lombrigas que a falta da garapa causaria naqueles pequenos fofos, que sempre dão oizinho pra mim ou
h) dei de ombros e pensei, amanhã tem feira perto, vou lá e aproveito pra levar um tonel de garapa pra escola inteira.

para sua surpresa (lógico que não, se me conhece sabe que eu tô até aliviando nas reações), fui todas as alternativas.
e logo cedo, me despenco até a feira mais próxima, caminho toda ela, e nada de garapeiro!
nada de caldo de cana!
nada daquele motor barulhento ao lado das barracas de pastel.
zero garapa.

amanhã tem mais.
sempre tem.
beijo doce em vcs, viu?!

sexta-feira, 12 de junho de 2015

o rei emburrado

tenho vivido na Bicolândia.
aquela terra onde a greve de sorrisos é fato.
onde o mau humor é regra.
lá, onde as bufadas são permitidas.
e os olhinhos virados solução.
os sorrisos são reprimidos e as risadas ficam guardadas.
em calabouços, de preferência.
toda resposta é não.
ou aaaaaaa...
ou afffff.
não tem dança.
música alta incomoda.
mãe pulando pela sala com peruca afrocircus é imediatamente tolhida.
carinha fechada é lei.
ignorar a genitora pode.
afastar os beijos então... tá certo.
e o rei dessa terra é absoluto nas suas ranhetices.
é firme.
implacável.
cheio de regras.
cheio de leis.
cheio de nãos.
ele não quer saber.
ele não abre mão.
ele nem passou a ser o príncipe.
pulou a fase.
é quase um tirano, quando quer.
e quase sempre exerce sua tirania.
mas o rei não é bobo.
assim, acredito.
ele não reconhece, mas tira seus momentos de folga.
até aplaude a vida fora da bicolândia, mas jura que não.
jura que é feliz (ou não) dentro do mundinho de nuvens cinzas.
mas quando não tem gente vendo, quando a mãe está distraída, ele se fantasia de menino de quase sete anos e corre pelo quintal.
ele cantarola músicas alegres, sorri pras formigas do chão.
e até consegue viver feliz para sempre.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

sobre pensamentos e beijos

olho pro teclado.
as letras se embaralham.
o pensamento escorre por onde consegue.
eu quero escrever.
quero muito.
mas parece que os dedos, as ideias, as letras não se coordenam.
estão em desacordo hoje.
cada um com sua vontade própria.

e eu, que sou apenas a portadora deles todos, fico aqui.
tentando unir tudo.
dar sentido.
dar vazão.
rumo.

fico entre desembaralhar e embaralhar as letras do teclado.
fico a admirar o vermelho lindo que colore as minhas unhas.
fecho uma janela.
abro outra.
navego pela cidade, pela rede, pelo mundo.
navego por mim, em mim.
aqui dentro.

e só consigo me concentrar em uma única coisa
de verdade
no beijo que isaac me deu antes de ir pra escola.

coisa de mãe né?
coisa de mãe.



terça-feira, 9 de junho de 2015

Parque da Água Branca

Fomos à capital neste final de semana, e por dica de pessoa querida fomos passar a manhã de domingo no Parque da Água Branca.
Delícia de programa.
Espaço pra correr, brincar, ver patinhos, gansos, galinhas.
Lago com tartarugas e peixes, árvores, cavalos, museu, feira orgânica, moda de viola.

De graça, fácil de chegar e de estacionar.
Tudo de lindo.

Isaac amou tudo, mas surtou mesmo no MUGEO, o Museu de Geologia, que tem um acervo bacana com fósseis, pedras e um painel bem legal mostrando onde a natureza é utilizada nos produtos do nosso dia a dia.







Vale a pena!
Mais informações aqui.

terça-feira, 2 de junho de 2015

e onde é que eu mando?

lá em casa a coisa tá mais ou menos assim:
eu mando
tu mandas
ele manda
nós mandamos
vós mandais
eles mandam

e ninguém manda merda alguma.

explico.

a fase é a seguinte.
isaac, com seis quase sete, está indignado com esse lance de hierarquia.
logo, já começou a questionar onde raios pode impor sua vontade sem alguém questionar, optar ou dar explicação sobre poder e querer.

ele anda achando um absurdo não ter poder sobre o próprio nariz, o quarto, a comida, o banho, enfins...
filhote quer é ter a certeza de que há alguém abaixo dele na vida.
ok.
escolhemos pela educação na base da conversa e estimulamos e muito que ele tome decisões, sinta suas pequenas responsabilidades, aprenda com as consequências que lhe cabem.
sofro em ter que tesourar sua autonomia as vezes, mas educação é coisa complicada.

já tentamos dar umas colheradas de poder a ele:

- ok, vc manda no seu quarto.
e no dia seguinte os cachorros já tinham até arrumado um lugar só deles, os livros estavam esparramados pelo chão e tinha farelo de biscoito por todo lado.

- ok, vc vai escolher o que quer jantar.
leite com rosquinhas virou prato único no menu.

- ok, onde você quer passear hoje? é vc quem manda.
pronto, passaríamos toda a eternidade em casa jogando videogame.

aí não dá, né?
aí nós tivemos que realocar isaac em seu posto de "tá, tudo bem, te respeitamos, te amamos, mas não vai dar né meu filho?".
tenho dado alguns poderes a ele, lógico. precisa.
tenho explicado bem sobre querer e poder.
do jeito que dá.
e vamos assim.
saca ontem a noite:

- isaac, vamos fazer a tarefa.
- aaaaaaaaaa.... não quero.
- sério?
- sério. a tarefa é minha e eu não quero.
- ok. vc manda.
- mando?
- sim, claro. mas amanhã vc explica para a professora, tá?

abriu o livro, sentou, leu, escreveu, desenhou, pintou, guardou na pasta, na mochila e saiu como se nem existisse.

...

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Isaac, você é tão amado...

meu filho,
tenho pensado muito esses dias.
sobre o amor.
sim, sobre ele.
nas mais diversas formas.

mamãe tem estado com essa cara de cansada, filho.
não e culpa sua.
nem de ninguém.
é que adulto tem dessas coisas.
de não dormir pq quer pensar.
quer achar respostas.
ou apenas formular perguntas.

você pode achar uma bobagem grande agora.
ficar acordado olhando pro nada.
mas um dia você vai crescer e entender muita coisa.
que insônia é um fato. as vezes.
que olhar pro nada pode ser olhar pra tudo, olhar pra dentro, olhar pra fora da janela e do mundo.
que pensar é quase tudo o que somos.

mas agora é cedo.
cedo pra insônia.
cedo pra ter culpa.
cedo pra pensar em tudo.
cedo pra olhar pro nada.

agora, filho, é hora de você se sentir seguro.
seguro em nossos braços.
seguro para tomar as decisões que cabem a vc agora.
seguro para falar o que gosta, o que quer.
e também para expor seus sentimentos.

agora, isaac, é hora de entender.
entender o tamanho que o mondo tem para alguém do seu tamanho.
entender que esse mesmo mundo é horas sério, horas super divertido.
entender que tem vacina, tombo, tarefa e castigo.
mas que também há tanto doce que a gente até enjoa e não consegue comer tudo.

é hora de ter certeza,
apenas uma, acho eu.
de que você, filho, é amado.
é muito amado.
muito, mesmo e de verdade.
daqui até o infinito.


terça-feira, 26 de maio de 2015

sempre a mãe. a sua, a dele, a minha.

eu até achei que esse conflito fosse demorar a entrar na vida do isaac.
tá. sabe de nada inocente.
sei mesmo.
de nada.
e vou aprendendo.

e pensando bem, acho que até demorou.
explico.

há sempre uma mãe a ser xingada.
eu mesmo já perdi a conta de quantas santas senhoras já rotulei de puta, folgada e etecéteras.
a culpa é da mãe.
e a gente, na vida, tem vários exemplos.
a mãe natureza, a nave mãe (ah! essa aqui é ótimo assunto pra um próximo post, que não posso deixar passar), a mãe do juíz.
a mãe do motorista desatento, a mãe do político corrupto. essas super presentes.

bom, 
mas tô aqui pra falar de mim.
a mãe em questão.
a culpada e a ofendida.
nem tanto, mas cada um sabe o tamanho que enxerga a vida.

isaac chega em casa com um baita sapo boi entalado na garganta.
não fala.
segura o quanto pode.
e eu fico esperando.

já de noitinha ele ensaia e começa:

- aconteceu uma coisa muito ruim na escola hoje.
- posso te ajudar?
- é que o fulaninho disse que não ia a festa da fulaninha pq ele tinha horário estendido hoje.
- sim. acontece, né?
- e eu disse pra ele que você, as vezes, deixava eu sair mais cedo pra ir na festa.
- sim. a mamãe entende que dá pra fazer isso sim.
- e ele disse que você deixa por que você é uma burraaaaaabuááááábuáááááá.....

segura o riso AND o "burra é a mãe daquele pequeno filhodaputa! para já de andar com aquele merdinha!!!"

- vem aqui, filho... 

abraço forte e pergunto o que ele sentiu.

- senti muita raiva! muita!
- normal isaac, dá raiva na gente ver alguém que amamos ser ofendido assim. seu amigo está errado, não podemos xingar.... mas ó, as vezes ele estava com raiva tbm. pensa. se ele queria muito ir a festa e mãe dele não deixou... né?
- né. mas eu enfiei o lápis no braço dele.

o_O


terça-feira, 19 de maio de 2015

conservador

eu tenho algumas ideias sobre a vida.
tenho as minhas conclusões.
mudo minhas opiniões e verdades sem problema nem apego.
sou teimosa sim.
persistente.
acredito no que acredito e ponto.
mas não sofro com as mudanças.
seja em que sentido for.
tá. sofro um pouquinho, mas sou ser adaptável.

bom,
mas me deixemos pra lá.

o negócio é que Isaac não é.
não deixa pra lá.
não desapega nem do papel de bala.
imagine você o que faz com as próprias opiniões.

semana passada tivemos reunião na escola.
adivinha.
professoras falando que isaac não arreda o pé.
teima até em mudar até o tamanho da letra.
tá. é a personalidade.
tá, ele vai aprender.

mas será que eu também vou?
desde bem pequeno isaac já é menino decidido.
resolveu largar a mamadeira do dia pra noite.
abandonou as chupetas num piscar de olhos.
pediu para tirar a fralda noturna e ponto.
sabe o que gosta e o que quer.

então, venho me policiando pra não ser aquela que corta demais nem a que dá corda demais.
mas ó que não é fácil, viu?
a hora da tarefa em casa é um sufoco.
cabo de guerra até pra definir aonde começa e termina o parágrafo.
qualquer alteração de horários, seja do desenho ou da consulta médica, é novela. das mexicanas.

mas me diga, você, o que faria com tamanho grau de teimosia/conservadorismo/decisão?

segunda-feira, 18 de maio de 2015

como assim? vai passar? ô. uma hora vai... rs

sou xereta.
sim.
um bom tanto.
mas acontece que observando essa vida, as pessoas que passam pela minha...
e digo pessoas de todas as idades, tamanhos, graus de parentesco, amizade, afinidade, ódio, irritabilidade, artista de cinema, cantor, político, gente desconhecida, conhecida, enfim... vou tirando meus aprendizados.
sou mulher, já adulta, mas tenho cá meu pezinho na adolescência, mesmo que não seja a minha.
dou risada da vida com a mesma frequência que choro por ela.
tá.
acho que todo mundo é assim, não?

e vou aprendendo mais ainda sendo mãe, né?
convivendo com mães.
antes nas rodinhas, depois pelo blog, depois internet toda, facebooks, instagrans da vida, no geral.
conviver com mães é um tratado.
você sai de cada encontro ou se sentindo uma merda ou super heroína ou as duas coisas ao mesmo tempo ou um milhão de coisas ao mesmo tempo (e boa parte delas você nem sabia que existia).
você acha que sabe, mas não sabe.
você acha que é a louca do primário e descobre que isso é normal.
você crê que está fazendo quase tudo certo e nota que está fazendo certo demais.

e uma das frases que aprendi com a maternidade é que passamos a viver a vida em fases.
não que não fosse assim antes, mas é na maternidade que você entende o processo.
e não é pq você é criatura iluminada, veja bem...
é mais pq diante do seu drama/desespero/questionamentos, sempre vem uma mais sábia e solta a máxima "fica tranquila, é uma fase, vai passar".
eu mesma já ouvi e já falei tanto isso aí que ter a conta é impossível.

e eu mesma já desacreditei de mim quando ouvi minha própria voz explicando algo do horroroso mundo maternal como uma simples fase.
sim.
fases existem e são para ser vividas.
fases são necessárias, mas...
cola aqui, amiga...
chega perto que eu vou te contar um segredinho.

tem fase que não passa, tá?

o que passa é a sua vontade de morrer diante de uma dificuldade daquelas.
o que passa é a inexperiência.
o que passa é o desespero (que se volta para outro tópico).
como também passa o seu olhar para tudo o que seu filho faz/já fez/e ainda vai fazer.

ou seja, as fases são suas.
só suas.
não do seu filho, do seu marido, do seu casamento, do tio da quitanda.

e eu percebi esses dias que as fases nos acompanham.
só que ganham dimensões muito diferentes de acordo com o seu jeito de lidar com elas.
se mate não, viu?
não é impossível, nem difícil.
aceitar as fases e deixá-las maiores ou menores é item de fábrica.
está aí em algum lugar,

então, se seu filho não pára de gritar, comer meleca, acordar de madrugada, fazer birra, te ignorar por completo, respire fundo.
entoe o mantra clichê básico de que é uma fase.
(garanto, faz parte do processo)
e se deixe transformar.
como?
quando?
vou liberar aqui outro segredinho.
(atenção, talvez seja só trocar um clichê pelo outro)
e esse aqui você pode usar e abusar:

- uma hora vai...

ótima semana pra nós!



quinta-feira, 14 de maio de 2015

o dedo do meio

já que o assunto é a falta de educação e o vocabulário impróprio...
continuemos.

o dedo médio ganhou mais um sentido em casa (aquele bem sujo) quando isaac fez um machucado no bendito dedo e saía mostrando assim, deliberadamente para a geral.

explicamos, sei lá se devíamos, mas explicamos, que aquele dedo inofensivo alí, se bem mostrado, seria arma das boas em algumas ocasiões seria um palavrão daqueles, mesmo que não falado.

e desde então, a cria acha uma graça imensa em mostrar o dedo do meio pro cachorro, pro espelho, pro passarinho, pra cadeira, enfim...

até pra mim, já peguei.
ele que não leia, mas filho de quem é até demorou.
maaaaas, ganhou sermão, lógico.
nunca mostrei o dedo pra minha santa mãezinha, muito menos para quem não o mereça.

bom,
mas acontece, né? que a vida, essa gracinha...

isaac chega em casa todo indignado:

- mãe! você acredita que a Gi (amiga da escola, fofa de tudo) não sabia que o dedo do meio é um palavrão??????

indignada fiquei eu.
meu filho se transformou na criatura que ensina coisa feia pros coleguinhas inocentes da escola.
já senti os olhares "quem será a mãe desse menino????" das mães loucas, sendentas por justiça e laranjinhas menos podres.
mais um sermão.
não.
mais uma conversa sobre o que pode e o que não pode ser compartilhado com a turminha. sobre educação e respeito,

é fácil de teclar, assim, rindo de si mesma, mas isaac está numa fase doida, onde as explicações tem que ser muuuuito bem explicadas.
toda resposta gera mais uma tonelada de perguntas.
todo assunto vira um tratado.
e eu vou aprendendo também.
aprendendo como lidar, como responder, como dar limites e principalmente, conhecendo minha capacidade em não enlouquecer ou sair gritando "jesus me ajuda!".

o dedo do meio, aliás, os dois que cabem ao isaac, continuam lá. firmes e fortes.
cheios de sentidos e significados.
cheios de gracinhas também, devo anotar,

...

segunda-feira, 11 de maio de 2015

como diria Dercy...

eu sou boca suja.
sou.
sempre falei muito palavrão.
por conta da espontaneidade, da personalidade, do tudo.
mas sei que exemplo é tudo nessa vida.
tanto quanto a sinceridade e a verdade.
então, quando isaac nasceu, achei sim que deveria maneirar no vocabulário.
troquei a exclamação que começa com ca e termina com lho por jesus!
sim, acredito nele e respeito, mas era bem melhor clamar ao filho de deus do que clamar ao membro viril masculino.
enfim...
mas eu me traio.
vira e mexe eu topo com um menininho de olhos esbugalhados, indignado com as palavras que saíram da boca materna.
as vezes ele me repreende com um "olha só! você falou!".
e dependendo da situação dá uma risadinha besta, achando tudo o máximo.
eu peço desculpas.
eu digo que mesmo a mamãe falando, é feio.
e eu explico que tem horas que só um palavrão bem falado alivia.
ah! sou tudo, menos mentirosa.
então sigo sendo essa discípula de dercy gonçalves.
e sigo bem.
isaac também.
mas outro dia, foi hilário.

sou boca suja por hereditariedade.
minha mãe também adora um palavrão.
e depois de passar uma tarde com a vovó, isaac foi comigo à padaria.
olhou atento toda a vitrine de guloseimas e teve um choque:

- aaaaaa!!!!! esse pão eu não posso falar o nome!

jesus! - pensei eu na versão censurada - que pão será esse???

começo a vasculhar já toda curiosa a estufa.

- qual isaac?

- esse mãe!!!! - ele aponta todo vermelho de vergonha e horror.

analiso bem todas as letrinhas e seguro a risada e o choro:

B R U S Q U E TA.

fresquinhas, lindas e de todos os sabores.
aproveitei, levei umas pra casa, a fim de ilustrar a explicação que daria mais tarde.

fim?

sexta-feira, 8 de maio de 2015

é de chocolate...

eu já escrevi aqui, reclamei, chorei, dramatizei.
encarnei o "isaac não me ama mais" de todas as maneiras possíveis.
sou boba. sei.
sou exagerada. ok.
sou lokalokaloka. na maior parte do tempo.

mas acontece que eu sou assim, e sofro do jeito que me cabe.
certo que dou risada. muita risada de mim.
inclusive agora, enquanto teclo, tem gente me olhando com olhar estranho, já que tenho um risinho constante.

quem é mãe de menino já deve ter recebido essa graça divina sentido que há sempre uma criaturinha apaixonada, suspirando por você, derretendo de tanto te amar.
não?
pois bem, isaac era assim.
era.
hoje mais me ignora do que me observava.
hoje mais bufa na minha cara do que suspirava de amores e admiração.
hoje mais fala "ôôô mããããe..." do que "mamãe!!!"
hoje.... enfim....

perdeu o interesse.
é fase.
eu sei.
e até aproveito.
sofro sim, sinto falta sim, mas é a vida.

e a vida, essa coisa, sempre me dando tapinhas na cara.
me rotulando como essa doida exagerada que mesmo sou.
explico:

isaac entra no carro e eu já esperando toda a sorte de respostas monossilábicas para as raras perguntas que faço na saída da escola.
ele me espia, faz gracinhas pelo retrovisor.
logo penso que aquele sorrisinho alí é uma armadilha.
e encaro que estarei presa nela nos próximos segundos.
ele sai do carro, me abraça e manda:

- você é minha mãe de chocolate!

- sou é? tô doce ou bronzeada?

- nãããão mããããe (só pra não perder o costume, vai), você é minha delícia.

enquanto eu ficava alí, anestesiada, pronta pro momento cataploft que há tempos não vivia, ele escancarou a banguela e foi.
foi voltar a ser o menino de seis anos, quase sete, que ignora a mãe o resto da tarde.

bjo

terça-feira, 5 de maio de 2015

rwilécssssss (leia com sotaque, qualquer um que consiga)

Isaac passa pela mesa e observa tudo o que está espalhado sobre ela.
revistas, livros, peças de lego, contas a pagar, bolsa, caneta.
uma bagunça.
estica o pescoço e continua a exploração.
avista o livro.
apaixonado que é pelas palavras, logo vai lendo.
devorando o que tem pela frente:

- mãe reeee mãe reeellll mãe relaaaaxxxx???

- Isso filho.

e ele se enfia no inglês:

- mãe rwilécssssss???

- ótimo, isaac! certinho!

aí ele pensa um tanto sobre o título, me mede de cima até os dedos dos pés, sorri e manda:

- rwilécssss, minha mãe é rwilécssss.

e sai saltitando.
e eu?
fico alí babando no todo.
não sei se mais feliz por ele me enxergar relax ou por ele não ter feito alguma crítica tipo "que livro mais tonto, todo mundo sabe que não existe mãe relax nesse mundo. a minha, pelo menos, do relax passou longe"...


quarta-feira, 29 de abril de 2015

Mãe Relax: Recomendo sim e digo o porquê.

Comecemos esse post com momento flashback:
Lá, quando me enfiei de nariz, cara e tudo na blogosfera materna e fiquei apaixonada pelas possibilidades que nela existiam, tive a sorte de me estabacar em alguns blogs.
O da Mari, digo, foi um deles.
Aí li, reli, pitaquei, respondi, marquei, me apaixonei.

tchururu tchururu...efeito sonoro gracinha.... pronto... Voltemos pros 2015, please.

E eu vejo alí a Mari, toda gata, toda na alegria maluca, toda rodeada de gente feliz e orgulhosa, toda trabalhada nas letrinhas e carimbinhos, toda sendo ela (a ela que conheço de texto, de foto e de miabraçaamiga).
Fico na fila, dando pulinhos, abraço, digo poucas palavras, peço foto, babo em lucas babando jujubas, paquero os olhos lindíssimos de alice, beijo de novo e saio.

Enfio dois livros na sacola e começo a ter coceira.
Coceira pra ler logo, pra saber daquilo, sentir mais perto. Sei lá.

Mas então, segundona braba, Isaac endoidecido pede tudo. Pede atenção, carinho, respostas e banho de banheira.
Ótimo, penso, encho a banheira enquanto faço a tarefa com ele, e me divido alí entre banho e janta, coisa básica.
Mas aí vejo aquela coisinha linda, com laço de fita, me esperando sobre a mesa.
Mais que rápido decido que vai dar tempo de fazer a janta já já e sentar ao lado da banheira e dar uma conferida no que a Mari tem a dizer se torna a melhor das opções.
Lembrei ainda, mais feliz, que a coordenadora da escola nos deu a seguinte dica "deixe que seu filho veja você ler"... ótimo, agora tenho um álibi.

E eu sentei, deixei o filho se divertir me molhando, jogando brinquedo em mim, ameaçando mergulhar o livro na espuma, mas me entreguei.
Logo, aquela devoradora de páginas que mora em mim ficou louca mesmo e só foi aprisionada novamente quando escuto da cria que está com fome. Puta Merda! A janta!
Faço macarrãozinho, é rápido, todo mundo ama e pronto.

Mas o livro né gente?
O livro da Mari, no final das contas, é isso.
Isso mesmo aí em cima.
Esse acumulado de pequenas cenas. Da rotina desta mãe aqui que caminha lindamente sobre o muro sem cair nem de tudo pro lado das neuras, nem de tudo pro lado dos desapegos.

Agora, amiga, se você não passou por estas linhas sem pensar em algo do tipo "essa mãedemerda vai deixar o filho sozinho morrendo afogado na banheira?" ou "como assim não tem janta pra essa criança?" ou "não tem janta e ainda vai sentar pra ler?", aí digo, o livro da Mari, pra você, pode ser caso para prescrição médica.

bjos em vocês e bjo em você, viu Dona Mari, continuo fã.



...

quarta-feira, 22 de abril de 2015

dos desafios e dos tamanhos

feriadão.
saiu sol.
eu e isaac resolvemos pular na piscina.
eu, como sempre, com um bom tanto de neura sobre o corpo, sobre o que está mais pra baixo do que pra cima, sobre os furos, pneus, coisa de mulherzinha.
ele, como sempre, atento a qualquer escorregão meu pra me mostrar a graça que a vida tem.

pulamos, brincamos, cantamos, gritamos.
uma farra.
até que ele começa com suas regras (tenho um filho viciado por elas, mas isso é assunto para um outro post).
"tem que ser assim", "você vai perder pontos", "assim tá errado", "agora é desse jeito", enfim, uma infinidade de regrinhas e desafios.

mas quando ele vê que sou indisciplinada e tô nem aí pra coisa toda, ele provoca.

- duvido que você consiga mergulhar assim.

- duvido que você sabe fazer aquilo.

duvida um monte. duvida tudo.
e eu vou tentando provar que dá.
até que:

- duvido que você mergulhe tão fundo que deite no chão da piscina.

eu respiro e fundo e vou. e saio toda dancinha da vitória:

- consegui! consegui!

- não conseguiu.

- lógico que consegui, Isaac! até encostei meu peito no chão.

ele olha, ri bem safadamente e manda:

- lógico, seus peitos são tãããão grandes!

ploft


segunda-feira, 20 de abril de 2015

quanto valem cinco reais?

eu sou mãe tirana?
mais ou menos.
sou chata?
um bom tanto.
sou dura?
sempre tem um avô ou avó me reprovando e dizendo que sou exigente demais.
mas meu bem, sou mãe, sou ser humano, e tô aprendendo.

acontece que, acredito eu, que isaac, já nos seus quase sete anos, tem sim que sentir a aguinha bater no popozinho lindo da mamãe.
explico.
a vida é feita, repleta, construída de acordo com as responsabilidades que temos.
e em qualquer idade, a gente tem que a prender a lidar com elas.

então, atualmente, isaac aprende que tem suas obrigações.
e se não lida com elas, sofre as consequências.
coisa básica.
guardar o tênis quando chega da escola, colocar a roupa suja no lugar certo, retirar o prato da mesa, fazer a tarefa da escola, cuidar dos livros e organizar os próprios brinquedos.
pego no pé.
ele bufa, reclama.
mas eu aguento.

aguento até ele brigar, dizendo que a culpa é minha quando não acha algo, quando se perde na própria desorganização.
não fico louca, não piro, mas tenho a certeza de que é nos pequenos acontecimentos que conseguimos ensinar os pequenos.

e na última semana, tive a oportunidade. e agarrei.
isaac tem dna de traça.
se enfia no meio dos livros e pode viver por alí por dias, semanas.
então, que receber este ano o benefício de trazer um livro a mais para casa no final de semana foi uma alegria sem tamanho,
e ele traz o livro.
com data certa para devolução.

e no meio de tantos, o livro em questão foi deixado um pouco de lado.
e a mãe neurótica avisava todos os dias quantos dias faltavam para a devolução.
logo o dia chegou.
o que aconteceu?
a mãe enfiou o livro na mochila?
não.
a mãe avisou que o livro deveria ir pra mochila.
ele ouviu e colocou?
nãããão.
ele saiu da escola todo irritado por que eu não havia colocado e então era preciso pagar multa.

- ok, isaac, você pega o dinheiro do seu cofrinho para pagar a multa,

choro, indignação, bico, horror, reclamações.

- mas foi você que não colocou o livro na mochila! Cinco reais é muito dinheiro! e eu estou guardando para comprar um jogo novo!

só faltou "vc é um monstro! uma velha louca! está me explorando!"
e de forma calma eu respondo:

- fui eu quem decidiu emprestar o livro? escolhi o livro? pedi o livro? a escola é minha? a mochila é minha?

ele emburra mais ainda e solta vários nãos entre os dentes.

- então, meu filho. quem é que tem a responsabilidade sobre o livro e tudo o que vem com ele?

mais resmungo, mais choro, mais mais mais.
explico que avisei da data, que sabia da data, sabia da multa, mas quem deveria aprender sobre tudo aquilo é ele.
que o valor da multa, os cinco reais, seriam pouco se ele realmente aprendesse a não atrasar mais os livros, se percebesse que já pode agarrar suas responsabilidades, aquelas que crianças de seis anos conseguem e devem ter.
e que, principalmente, não tenho culpa alguma. pois não tenho mesmo.

aceitou muito não, mas aguardo cenas...

quinta-feira, 16 de abril de 2015

valente

ok.
falaremos de filmes, também.
mas não da minha princesa preferida não.
o único príncipe a ser citado neste post é aquele que parí.
então vamos lá.

isaac nasceu - por mais que não tratemos as coisas assim em casa - naquela sociedade do azul é de menino e rosa não, do menino não chora menina sim, do boneca não pode pra meninos, do mostra o pipi pro vovô, do você é homem rapaz! tem que ter coragem!
uma coisa.
irritante, mas que existe.
vamos lidando e lutando com certas coisinhas.

mas então, isaac está naquela fase de super valorização do ser masculino.
e no meio de todos os poréns, quer ser corajoso e valente, não sensível.
tá difícil de mostrar os medos.
tem lutado para não demonstrar o que ainda entende por fraquezas.

eu, que me mostro ser fraco sempre que posso e preciso, muitas vezes observo.
ensino, dou exemplos, abro meu coração, e observo.
sem pressão, sem trauma, sem dor.

mas venho então descobrindo que isaac tem sim seus medinhos normais, que todo menininho de 6 anos pode e deve ter, e mesmo com a casquinha de pequeno macho forte e poderoso, deixa escapar o que venho lhe mostrado, que é possível sim ser feliz fora desses parâmetros.

explico.
ele pediu pra assistir (pela milhonésima vez) Jurassic Park.
ok, diz a mãe.
ele se segurou o quanto pode, mesmo se borrando de medo do t-rex.
aí resolvi cutucar:

- ai isaac! essa cena é muito emocionante! ai meu deus!

ele não pensou duas vezes, agarrou meu braço, apertou os olhos e mandou:

- então me protege mãe! me protege que eu assusto!

aí deixou o orgulho bobo de lado e assistiu coladinho em mim, até o final.
eu?
curti o filho, o filme e o risinho besta que morou em mim por um bom tempo.

bjo em vcs


terça-feira, 14 de abril de 2015

ele ainda me ama

tá.
sem drama.
eu sei que ele vai me amar.
por todos os dias esse amor vai persistir.
as chatices, as idiotices, as brigas e a cada namorada que eu rejeitar.
vamos brigar, xingar, discordar.
e ele vai continuar me amando.
vou dar remédio azedo, sermão, esfregar atrás da orelha, cortar o filme no meio, segurar pra vacina, dar castigo, tirar o videogame.
mesmo assim ele vai me abraçar antes de dormir e me amar.
vou tirar da cama no inverno, fingir que não ouvi suas reclamações, obrigar a fazer a tarefa, fazer comer verduras antes do chocolate.
e o amor estará alí.
vou mostrar que não sou perfeita, vou xingar a dieta, vou chorar, fazer careta.
engordar, emagrecer, empelancar, engrisalhar, travar a coluna.
e mesmo assim ele vai me amar.
pode ser que uma bomba caia, uma merda grande seja feita, uma ideologia desabe e ele estará lá, me amando.
do jeito que ensinei.

e como eu sei?
simples.
toda mãe sabe, acredita, espera e guarda no coração.
ok.
mas nessa fase aqui, em que eu sou a última pessoa da fila, sou aquela que atrapalha as brincadeiras, perdeu a graça, sou só a chata, sou mulher e blé pra mim....
ontem ele percebeu que eu estava triste.
viu que eu estava cansada, com uma gripe que não acaba, toda gemendo, de pernas inchadas.
me abraçou, suspirou e mandou:

- mama, você é a melhor mãe do mundo.

eu, toda trabalhada na desgraceira disse que não, que não era.
ele se encostou em mim, sorriu quietinho e cochichou consigo mesmo:

- é sim. é sim.

esta aqui?
curtiu. só curtiu.

...

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Velcro

Aí, vc, mãe e cara colega, lê um título desse e pensa:
"a tal da conclusão do Edipo se acabou e a Carol vai para de reclamar".
Não.
Nem se iluda.
Isaac não está nada colado em mim.
Continua me ignorando como se eu fosse um videogame sem novas fases.
Mas tudo bem (e isso é papo pra um outro post).
O assunto de hoje é mais das graças dessa vida.

Eu sou do time das dramáticas, não nego.
Logo, achei que o nascimento dos dentes seria um processo tenso e traumatizante.
Não foi.
Aí achei que engatinhar seria um processo difícil.
Nem existiu.
Andar então, deixaria marcas eternas.
Nada.
Desfralde então, me faria endoidecer e padecer em todos os paraísos imagináveis.
Hã hã.
Aí comecei a relaxar, né?
Mudar e adaptar em escolas novas, foi lindo.
Ir brincar nos amigos, ok.
Ainda há algumas cositas que ele resiste.
Comer sozinho, tomar banho sozinho, limpar o próprio fiófis... Faz, mas reclama um tanto.
E eu, já achando que a vida era linda e descomplicada, me deparo com um pequeno perrengue.

O velcro.
Isaac está resistindo, com todas as forças que pode, a dar o laço no próprio cadarço do próprio tênis.
E está fulo da vida com o fato de que o pé cresceu e a industria calçadista aboliu os modelos com velcro para pisantes maiores que 30.
Longe de mim criticar os fabricantes.
Mas como (como Mellldellllls????) ensinar a um menininho teimoso de nascença a dar laço???
Não acho laço coisa simples e faço drama sim.
Já que é uma das marcas que me cabem.

E pra ajudar, pari criatura toda trabalhada na carinha de pau:

- Vamos filho, coloque o tênis.
Lógico que ele pega o modelo com velcro, já apertado.
- Use o outro Isaac, está vestindo melhor.
Ele analisa bem a situação e manda:
- Nãããão mãe.... Vai que desamarra e eu tenho que parar pra dar o laço, demoro e fico alí, perdido na multidão????
Ameaça um biquinho, e fica esperando a minha reação.
Viro as costas, me tranco no banheiro, dou risada e quase choro de orgulho.

Aceito dicas e sugestões.
bjo

quarta-feira, 8 de abril de 2015

eu sou aquela mãe chata que achei que nunca seria

essa noite não dormi.
insônia.
soma-se uma gripe estranha, filho e marido também doentes e uma cabeça com síndrome-do-tenho-que-resolver-tudo-agora-senão-o-mundo-acaba.
essa sou eu.

e então que qualquer frase lida, video assistido, comida digerida, me lembram algo em que eu deveria estar pensando, ou me aperfeiçoando, ou me corrigindo, ou enfim....

gente louca.
sim, sou.

mas voltando a essa noite...
eu cheguei a uma conclusão dolorida.
me transformei num monstro horrível, descontrolado, sem paciência e - o pior de tudo - sem graça.

não é drama.
(sim, é, mas finge que não e me abraça)
não é culpa.
(sim, é, sempre é, mas a gente acha que já se libertou)
não é culpa da falta de sono.
(pode ser, um pouco)

mas parei pra pensar no dia e não lembrei em momento divertido, animado, nada.
só lembrei da louca dos horários, das regras, das obrigações.
soltei grito interno, pq né? de madrugada não dá pra extravasar assim.

me odiei muito.
me prometi mudança.
pelo meu bem e do meu filho.
e agora escrevo com um aperto no peito.
uma raiva gigantesca.
uma vontade enorme de rebobinar a fita.
de reescrever essa história.
de sentar e chorar.

sei que pode ser exagero, sei que não pode ser tudo assim assim...
mas no caminho que esrtá, não dá pra ficar.
mudemos.
mudemos e oremos.

...



sexta-feira, 27 de março de 2015

Digerindo

lembra de ontem né?
da mãe que acabou com os sonhos do filho?

a vida continua.
e vamos digerindo.
cada um do seu jeito.

isaac ainda quer falar sobre, mas pelo que conheço da figura, vou penar pra descobrir o que se passa alí dentro daquela cabecinha.

e então ele me dá doses homeopáticas:

- mãe, eu vou te fazer uma pergunta. só uma. - ele frisa, e eu penso que um dia isso sim será possível, já que isaac sempre tem um caminhão delas sob cada manga.

- sim, sim.

- não existe mais aquele negócio de lutas com espadas?

então, eu me jogo no jogo.

- existe filho, é um esporte que se chama esgrima. acho lindo.

ele sobe a sobrancelha e me encara pelo retrovisor como quem quer um tanto de paciência extra.

- nãããão, aquelas espadas graaaaandes.

alí tive a certeza plena de que a palavra PIRATA estava completamente banida da conversa.

- aaaaaaa, entendi, igual aquela espada que você usou no seu aniversário de 4 anos (no qual eu quase me matei para conseguir tudo o que ele queria e sonhava com o tema pirata)?

- isso.

- olha amor, eu acredito que não.

- como assim?

- é que com a tecnologia, as pessoas foram descobrindo armas mais potentes.

e tivemos alí uma conversa super produtiva sobre a indústria bélica, sobre as culturas que utilizam espadas, sobre sabres de luz, e etcs.

e ele parou pra pensar.
cortou a conversa num golpe só, como se fosse um samurai (já que a pirataria está na geladeira), e me deixou alí, só esperando.

e eu espero.


quinta-feira, 26 de março de 2015

Piratas

Tem coisas que a gente tem que passar.
o primeiro passo, o primeiro beijo, o primeiro porre, o primeiro amor.
essas coisas que a visão romântica da vida nos proporciona.
escrever um livro, plantar uma árvore, ter um cachorro, ou um peixe, um cacto.
essas questões são infinitas.
e eternas, diga-se de passagem.

mas eu estou mesmo aqui pra falar de piratas.
da visão romântica ou não.
da verdade ou não.
da imagem hollywoodiana ou não.

e também vou falar do Isaac.
esse ser surpreendente.
ou não.

mas enfim...

Isaac tem uma paixão por piratas desde sempre.
primeiro o lance todo das espadas, tubarões, navios, canhões, caveiras.
mas aí veio a disney e o jhonny deep. aí lascou-se.
ele adora, brinca, assiste aos filmes, imita, repete as cenas, sabe as falas.
tá.
até aí tudo bem.
deixemos de enrolação.

acontece que isaac participa agora de uma atividade na escola em que a grande questão é "o que você quer ser quando crescer".
lindo.
até seu filho responder que quer ser pirata.
e voltar puto da vida pra casa porque os colegas que não riram, se uniram em coro pra dizer que essa profissão não existe.

primeiro falamos que existe sim e explicamos que talvez os colegas tivessem achado estranho tal escolha.
conversamos sobre a índole duvidosa dos objetivos piratescos e que entendíamos sim os motivos de ele ter escolhido isso pro futuro.

e os dias passam.
e vem isaac de novo.
agora perguntando se fazer faculdade é coisa obrigatória.
já que não existe faculdade de pirataria.
pra quê, né?

mais uma vez conversamos sobre o futuro. sobre não ser obrigatório fazer um curso superior, mas deixei claro que acredito sim (ainda) nas instituições de ensino e nos prós de se conquistar o diploma.

e filhote então, retomou o fato dos amigos ainda rirem da escolha dele.
de querer ser um pirata.
aí que eu não devia estar num dia muito bom.
ou estava num ótimo, vai saber.
e disse que os piratas de hoje são vilões bem vilões.
que não eram mais como o Jack Sparrow.
mas meu filho quer ver pra crer.
e me mandou consultar o google.

e foi de cortar o coração e servir picadinho com cebola a cara que ele fez quando viu que a coisa atual está muito mais para Captain Phillips do que pra Piratas do Caribe.
Metralhadoras, arma na cabeça, figuras horríveis e amedrontadoras.
e ele, gente, chorou.
chorou sentido.
vi seu castelinho caindo, ruindo, despedaçando.

até tentei aliviar, dizendo que entendia que o que ele queria na verdade, era ser um adulto aventureiro, que viajasse bastante e tivesse muita coragem, mas não era isso não.

e com a merda feita, mas acredito eu que necessariamente, vi alí a transformação.
isaac se decepcionou com a verdade e teve que crescer com ela.
resolveu que não ia mais escolher pirata como opção para o futuro.
mas que também ia responder um NÃO SEI bem grande quando fosse questionado sobre isso.

está triste sim com tudo isso.
mas...
é a vida, não?!



quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Das dores dessa vida

Fato.
Todo mundo sofre.
Faz parte do processo.
Ser um ser pensante implica em passar pela mais vasta sorte de momentos difíceis.
E inevitavelmente, superá-los.
As vezes não.
As vezes demora um monte.
Mas faz parte dessa vida também sobreviver.
Aos momentos, pessoas, situações, chatices, enfim.
Sei disso, você sabe, nossos filhos vão crescendo e aprendendo.
Tudo lindo e civilizado.
Tudo já explicado e desenhado pelas mais amplas sabedorias da psicologia.
O cosmos.
Religiões.
Tá.
Até que chega o dia que seu filho de seis anos chega em casa todo trabalhado na depressão.
Lágrimas nos olhos.
Se segurando (pq já tem aprendido muito dessa vidinha louca).
Depois de um tempo desaba, corre pro quarto e chora.
Sentido.
 - mãe, eu não sei o motivo, mas o fulano não quer mais ser meu amigo. Ele não me deu atenção hoje e fingiu que eu não existia.
Aguenta coração???
Respirei. Pensei.
Mas diferente daquela louca que ainda sou em alguns momentos, eu não pensei em enforcar a criança, muito menos em dizer um palavrão bem falado.
Eu estiquei meus braços, sorri, e dei colo.
Colinho.
Cafuné.
Deixei que ele se sentisse seguro para continuar a conversa.
E conversamos.
Sobre mostrar que não gostou da atitude do amigo. Que deve procurar saber o pq da atitude.
Sobre não se acomodar.
Sentimentos.
Sobre respeito e amizade.
Carinho.
E as diferenças entre as pessoas.
É assim crescemos.
Mais um pouco.
Cada um na sua fase, com seus limites.
Eu e ele.


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