quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Ser e ter...

Tenho lido em vários blogs sobre essa questão de ensinar os filhos o que é mais importante: ser ou ter.
A Anne, já o faz com o fofo do Joaquim e muito bem.
A Pri, ontem mesmo postou sobre a consciência já despertada na Stella.
E daí que me pus a pensar se estou fazendo direito.
Se estou demorando a lidar sobre isso com Isaac mais seriamente.
A gente aborda sim esses assuntos com ele, mas de leve.
E ontem, situação típica, oportunidade interessante, para falar com ele sobre a questão.
Conto.
Fomos a livraria ver presente para amiguinha que faz aniversário.
Já avisado sobre o destino, filhote emburra e diz que quer ir a loja de brinquedos.
Eu disse que íamos a livraria mesmo e ele já canta: Vai comprar um livro pra mim?
Eu, muito generosamente sem noção da malícia infantil já alí embutida, digo que sim.
Uma vez na livraria me ponho a escolher o livrinho mais bacana para a amiga.
Isaac segue escolhendo o dele.
Me veio com uns quatro exemplares, todos que vinham brinquedos junto.
(O que eu acho o horror da literatura moderna, diga-se de passagem. Livro ser vendido com brinquedinhos mil é coisa que, pra mim, não cabe)
Além de serem mais caros, por conta das tralhazinhas plásticas todas, tira total o foco do assunto, do interesse pela história.
E a cada brinquedo travestido de edição cultural eu explicava a ele que aquele não.
Quando ouvi de longe ele solicitando a vendedora sedenta por valores:

- Eu quelia um livo com binquedo pala a minha idade, você me mosta um?

E eu posso com isso?
Fuzilei a vendedora com olhos e pensamentos negativos.
E ela, de leve, desviou dos meus olhares e das perguntas do pequeno e esperto monstrinho.
Depois de muito papo chato e cansativo, Isaac confessou que não queria livro, queria brinquedo e ponto.
E saiu chorando porque não ganhou minituras submarinas, as quais tem um monte em casa.
E daí que mais calmo, sentado no chão da sala, procurei com ele toooodos os tubarões, baleias, polvos, caranguejos, conchinhas, golfinhos, Nemos, Marlins e Doris que ele tem em casa.
Fiz ele contar, olhar para todos aqueles brinquedos e lembrei que o que ele queria da livraria era exatamente o que já tem.
Aproveitei para falar um pouco sobre esse negócio de querer tudo. De não achar graça no que já tem. Que tem um monte de crianças que queriam ter pelo menos um brinquedo daqueles.
Disse também que os brinquedos custam dinheiro e que pra se ter dinheiro temos que trabalhar.
E sabe o que ouvi?

- Mas você tabalha muito na rádio. Você e papai tem muito dinheilo.

Daí que a coisa apertou.
E eu tive que explicar pra onde vai o suado dinheirinho que ganhamos.
Passando por escola, plano de saúde, supermercado, dentista e salário da empregada.
O que não me pareceu nem muito didático nem tão adequado assim a uma criança de 3 anos, mas eu tive que falar.
E ele ficou alí, achando a vida chata demais.
Acabou aí? Não.
Num surto de raiva ele chutou todos os brinquedos e disse que queria dar tudo para as crianças da creche.
(Coisa que trabalhamos bem aqui. Doamos roupas e brinquedos não mais utilizados)
Perguntei o motivo, já que ele gosta tanto das criaturinhas áquaticas.
E ele me respondeu:

- Se eu der esses, você me compra aqueles da livalia, porque eu não vou ter mais igual.

E aí???
Aí que até eu estava a ponto de mandar polvinhos e tubarõezinhos às favas.
Me segurei e tentei ser bem clara:

- A gente só leva para a creche os brinquedos que não usamos mais, certo? Se você doar esses, é sinal que você não os quer. Então não vai ganhar outros iguais.

Fez o bico.
E só.
Com os olhos cheios de lágrimas ele olhou bem pra mim e me apunhalou:

- Eu não gosto mais de você.

E saiu, foi brincar com outra coisa. Sem nem olhar pra trás.

Pois é, meu filho,
um dia você vai aprender (de alguma maneira vai) que você pode ter quantos tubarõezinho couberem na sua mão, mas isso não vai significar (nem de longe) que o oceano é seu.

E a mamãe te ama, tá? Pra sempre.

22 comentários:

Patricia disse...

Ai que difícil, né Carol? Acho que essa questão ser/ter é das minhas maiores preocupações. E tenho muita sorte de mariana não ligar muito para coisas materiais. Domingo mesmo fui à livraria com ela e ela escolheu o livrinho mais mixuruco da loja (e que se revelou muito bom!), embora a avó tenha oferecido tantos outros mais coloridos, lúdicos, e tals. Gostou do simplinho porque era do sítio do pica-pau amarelo e tinha a cuca, atual fissura.
Mas não estou me gabando não. Foi só um episódio, em meio a outros mais "consumísticos". Tipo, compra mãe?
O que concluo é que a gente só ensina dando exemplo. shopping não é passeio. comprar não é diversão. ter não é tudo. ser é tudo. ser feliz, ser família, ser criança. muito difícil essa arte na prática. mas se não formos nós a ensinarmos, quem será?
beijos!!!!!

Mariana disse...

hahahahaha, quase morro de tanto rir com as esperteza deste menino.
como assim, tão escondendo a fortuna do menino e deixando de dar os brinquedos que ele tanto sonha?????kkkkkk então ele vai dar tudo para creche, se sou eu faço uma sacola e já ameaço na hora. kkkkk
mentirinha.... aqui é bem igual, tenho tentado muito ensinar estes valores pro gabi. ontem ele estava chocado que o amigo digo não ia ter festa de aniversário, tive que explicar que nem todas os papais tem dinheiro para as festas (mega) nas casas de festas...e mais qu etalvez nem ele tenha festa de aniversário numa casa de festas. que os aniversários podem ser comemorados em casa com a familia, que ama tanto ele, e bla bla bla, ele emburrou tb! kkkkk, beijo!

Ana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana disse...

Escrevi rapido,saiu td errado..kkk,cá to eu de novo:
Adorei seu post,Carol.Não pela birra,obvio.Mas por que me identifiquei pois tive (e tenho) essa batalha constantemente com o Enzo.Ele tem a personalidade forte e decidida,assim como o Isaac.
E tb vem com esse papinho de "vc trabalha,então tem dinheiro"
e tb só pensa em ganhar presentes.Eu e o pai somos contra,tentamos,tentamos..Mas aqui o caso ainda é pior.Lutamos contra 4 avós e uma bisa que o presenteiam quase que diariamente(sem exagero!!)ja sentamos,conversamos que não é por ai,que vai contra nosso modelo de educação..Resultado: choros,insultos e apelos..quiçá a velha e boa chantagem emocional que os avós sabem fazer como ninguem.É dificil.Muito dificil.
E quanto a doar os brinquedos,ele ja foi mais ciente,hoje andou pra tras e esta numa fase: "amo tudo,td é meu,n quero doar nada"...
Aja paciencia para explicar,entender,orientar...ahhh,
mãe sofre viu,poxa!!
E vamos que vamos,que a batalha é grande e se essa foi nossa missão..vamos a luta!!rss..beijão e uma otima quinta!

Sarah disse...

E você ainda pergunta se está fazendo direito? Não só está, como nos ensina e ajuda a pensar como agir com nossos pequenos. Ainda não tive conversa dessa linha com Bento, mas acho que vc está certíssima e pretendo seguir por aí. Ele já começou a pedir por pedir, e já neguei várias vezes. O consumismo nos rodeia, e concordo com a Pati: ensina-se dando exemplo.
E concordo que é bem difícil, principalmente ao explicar valores tão abstratos e fazê-los entender com exemplos práticos, que caibam no entendimento deles. Difícil, porém necessário. E nada impossível.
bjão!

Carolina disse...

Já passei pela mesma situação.
Aos poucos eles aprendem.
Beijocas.

Coisas de mãe disse...

Periodozinho complicado ne?

Ontem tive uma longa conversa com o PEdro sobre a diferença entre a oferta de brinquedos quando eu era pequena e hoje. Embora ele seja bem maior que o Isaac foi dificil para ele acreditar que quando eramos pequenos era MUITO dificil ganahr o que a gente queria, os brinquedos custavam caros e não se encontrava tão fácil. Menos lojas e muito menos propaganda. Novos tempos, novos desafios.

beijos

Lu Iank disse...

Situacao complicada ne Carol, mas mesmo que seja mais dificil explicar do que ceder, é necessário.
Pode até parecer que ele nao esta entendendo, mas no fundo ele sabe bem o que vc esta falando. E na minha opiniao o quanto antes melhor. Depois de grande fica mais dificil trabalhar a questao de dinheiro e disperdicio.
Bjs

Camila disse...

Carolzitcha, a saia foi ficando cada vez mais justa, né?! E o seu menino é esperto e articulado pra caramba, hein?! Eu, honestamente, se entro em uma loja de brinquedo, não deixo comprar nada. Se entro numa padaria, não libero nenhum pirulito ou bala do Ben 10, mas difícil resistir aos livros, afinal estamos investindo no hábito da leitura... Confesso que, de vez em quando, libero, mas sem brinquedo, pq importante mesmo é a história, a leitura...
Bjos,
Camila
www.mamaetaocupada.com.br

Mamãe polvo disse...

Sabe Carol, muito importante isso que vc abordou...
Eu sou uma pessoa extremamente consumista (não tenho vergonha de falar) e tenho tomado muito cuidado para não transportar isso pra as meninas. Peço até para o Rodrigo me controlar....
Já pensei em escrever um post sobre isso... vou fazê-lo quando tiver tempo, acho importante.
Adorei :) Beijos

Ana do Viajar é tudibom! disse...

Essa semana, juntos fizemos uma "limpa" nas suas caixas de brinquedos e doamos todos os que para ele não havia interesse e doamos para a campanha de brinquedos.
Chegando o Dia das Crianças uma boa oportunidade para avaliar esse assunto e na decisão da compra do presente.
Como mulher, sou um pouco consumista, mas nesse quesito, graças á Deus sou moderada, não gosto de desperdícios e desde sempre ensino o pimpas dar valor ao que tem.
Ótimo post!

Bjinhos nossos

Eli Girola disse...

Que difícil!!! Haja jogo de cintura e raciocínio rápido para falar as palavras certas hein???
Jesus acende a luz quando Clara chegar nessa fase!!!

Micheli Ribas disse...

Ai, Carol. Que difícil, né?
Não é fácil trabalhar essas coisas.
A Clara não é de pedir brinquedos na rua, nem livros. O que ela pede quando vê são bexigas, rs.
Mas vejo que o que ela tem demais muitas vezes nem liga. A vaquinha do presente de niver dessa ano teve também esse motivo. Ano passado no niver ela ganhou nove bonecas de uma vez. Enquanto era novidade, brincava. Hoje brinca (e muito) só com duas daquelas, que ela adora. As outras ficam ali encostadas e ela brinca uma vez no mês. Acaba não dando valor.
Penso muito nessa questão, não é fácil educar as crianças dentro desse mundo consumista e até nós mães temos de nos policiar.
Beijos.

Nine disse...

Carol, estou aprendendo tanto com vc nesses textos! E tenho certeza que o Isaac também. A lição, a moral da história, sempre a parte chata da diversão, vai ficar gravada, tenho certeza, e agindo assim vcs, os pais, estão contribuindo não somente para a felicidade geral, numa sociedade menos comsumista, mas com a felicidade dele, principalmente, que aprenderá o que realmente tem importância na vida.
Beijos querida!
Nine

Fabi Alvim disse...

Carol, fiquei um tempo sem passar aqui e quanto assunto interessante eu perdi... mas, enfim, lamúria feita, seguimos!

Acho bem difícil também ensinar a Júlia (pq Joana ainda é um baby) sobre essas questões que me fazem falar feito uma louca, quase que sem pausas e certamente com palavras complexas. Ela me olha com cara de hã? e eu desisto.

Mas aí descobri que funciona se eu fracionar a conversa toda em diversos episódios e funciona mais ainda se eu transmitir as lições brincando.

Então sempre que ela vem com um "compra?" eu já mando um "tira o compra da boca, menina!", ela ri e eu explico qualquer coisa.

Incentivo muito a doação também e sempre que estamos próximos a datas comemorativas consumistas em que se ganha um monte de tralha, eu armo um mutirão para separar o que não é usado mais.

E o exemplo vai ensinando... acho que às vezes a gente se prende muito ao discurso... e às vezes parece que eles nem ligam muito pro que a gente fala...

Milene diiirce disse...

E qdo vc acha q se livrou de um questionamento, vem outro!

Mas eu adorei a frase dos tubarões!
Vou lá tuitar!

Jokas da Mi@diiirce

Anne disse...

Puxa Carol, que tenso! Não pense que tenho nada tão bem resolvido assim, eu tenho mesmo é feito tentativas de tentar pular essas crises tão comuns, de apego aos brinquedos, de querer as coisas.... mas sei que são expectativas vagas - minha opinião sincera e de coração é que vcs estão passando por uma somatória: a fase e a excelente capacidade do Isaac de se expressar, e de testar vcs.
Admiro toda sua paciência em explicar, conversar, mostrar o caminho. ele é muito esperto, certamente te entendeu!
Não sei o limite das coisas, e cada família tem um diferente, mas concordo com vc quando deliberadamente o frustra, (e sofre, claro) para que ele compreenda um conceito maior.
Tenho pensado muito, muito que um dos rumos da educação aqui em casa é sempre mostrar o certo, mas não esperar que ele compreenda.
Temosque esperar o tempo deles, e ser firmes sempre....
acho :)
bjo

Anônimo disse...

Carol. Cada dia um aprendizado, não é mesmo? Para ele e para nós que lemos assunto tão importante e tão bem colocado por você. Beijos!

Mari Hart disse...

Ai carol... o papo é sério mas eu ri! Como assem esse cotoco de gente argumentando dessa forma!?!?! Mas tenho certeza de que vc está no melhor caminho e saberá conduzi-lo da melhor forma possível!

Aqui começamos não trocando presentes em datas comerciais, o que eles já entendem muito bem!

Bjo enorme!

Naiara Krauspenhar disse...

Ai Carol, sofro junto viu...
Me identifico demais com seus posts porque Isaac e GG tem idades semelhantes, me vejo em situações muito parecidas aqui em casa, e não é facil mesmo.
E por diversas vezes ouvi "não gosto mais de você", nas primeiras vezes até chorei... mas agora nem ligo mais...
Se for a unica saída pra ensiná-la o que é certo, que assim seja... rs
BJos

Celi disse...

Carol,
Acho que é um grande desafio para nós. Ainda mais que fazem a maior birra, fazem uma carinha de pelo amor, que argumentam cada vez mais. Porém, acho que estamos certíssimas de mantermos uma postura firme. Não podemos ceder o tempo todo. Eles precisam começar a entender que tem hora para tudo. Que eles não podem ter tudo que desejam na hora que quiserem. Aqui também vivemos conversando, explicando, mostrando brinquedos esquecidos nas gavetas, mostrando a quantidade que já tem. Mesmo porque é um desejo momentâneo, passageiro demais. Ganham e na maioria das vezes brincam 10 minutos e já deixam de lado.
Se queremos que eles sejam crianças, que conheçam o valor das coisas precisamos desde já permitir que tenham sim pequenas frustrações. Um aprendizado! Mas tenho certeza que estamos fazendo a melhor coisa... Firmeza, hein! rs
Beijos

Bianca disse...

Ai Carol, é mega difícil mesmo e vou te dizer que passo até hj isso com o meu AINDA algumas vezes, viu? O que funciona legal por aqui é o pré acordo: Vamos em tal lugar para comprar tal coisa e SÓ, ou vamos em tal lugar e vc pode escolher algo com o valor até R$10 (eu uso isso com o meu pq ele já sabe, óbvio)
Mas olha, não é fácil mesmo. Mas a sua postura, ao meu ver, está corretíssima.
beijo

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