quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Falando de perdas...


Já falei N vezes das amigas de infância que conheci pela blogosfera.
A Ceiloca é uma delas.
Queriiiida de tudo. Uma das grandes incentivadoras do "Viajando".
Mulher de palavras fortes. Firme nas idéias.
Enfim, admiro, sou fã.
Acontece que conversamos sobre o segundinho. Compatilhamos a vontade de aumentar a cria. Eu e ela.
Ceiloca saiu na frente.
Mas eis que eu, depois de um tempo (ai esse tempo), me deparo com posts sobre aborto.
Triste verdade.
E depois de ler tudo o que minha querida amiga desabafou no canto dela, me vi, assim, com vontade de falar sobre isso também.
Percebi que ainda tem muita coisa aqui querendo ser colocada pra fora.
Já postei sobre as duas experiências.
Já conversei com bastante gente. Gente mãe, gente terapeuta, gente pai, gente amiga, gente interessada ou não no assunto.
Mas parece que sempre tem alguma coisinha lá, cutucando.
E hoje, bem cedinho, depois de anos do meu último aborto, vi que trata-se de uma metamorfose.
Não, Ceiloca, não vou ficar tentando te convencer que "vai passar, vai doer mas as coisas melhoram".
Vou só colocar aqui que aborto não é mais uma palavra que me assusta.
Não! Não quero nunca mais passar por isso. Nem quero que você ou alguém passe.
Mas aborto pra mim é um capítulo. Páginas que algumas de nós temos que enfrentar escrever, rabiscar, rasurar. E assim ir rascunhando como serão as próximas histórias.
A dor ficou diferente. Dias mais intensa, dias quase inexistente.
Sei que as frases desse capítulo não vão ser apagadas. Mas podem ser lidas e transformadas num conto, numa crônica, num relato.
Essas palavras podem dar força e podem enfraquecer dependendo da vontade e do estímulo.
E um dia, lá não se sabe quando, vão se tornar um capítulo, entre tantos outros que compõem a nossa exitência, materna ou não.
Vai despertar o interesse de ser aberto ou lido novamente. Ou vai ficar lá, fechado, calado, ignorado. Como já fiz muitas vezes.
Mas, por outro lado, minha amiga, você falou dos questionamentos que temos o direito de fazer.
E é aqui que esse post fica menos poético e não menos realista.
Durante a dor, o luto, a perda, as dúvidas ficam caladas.
E é aí que muito médico deixa de esclarecer os X e os Y de todas as questões que envolvem um aborto.
Eu ouvi da primeira vez: "Aborto espontâneo, tentamos novamente em alguns meses".
Espontânea então foi a minha vontade de trocar de médico, de ter respostas, de saber o motivo.
Questionamos, assuntamos, analisamos, fomos examinados, concluímos.
Não deixamos quieto.
Mesmo assim precisei passar por mais um aborto, mesmo com todos os cuidados, mesmo com um médico excelente.
Aí fomos encaminhados a um especialista em "aborto de repetição".
Mais uma vez questionamos, fomos examinados, analisados, revirados, consultados e decidimos enfrentar uma maratona de injeções, consultas e etecéteras.
Aí me pergunto.
Se eu (estimuladíssima pelo senso crítico do maridex) não tivesse me dado o direito de questionar, quantos capítulos assim eu não teria escrito?

21 comentários:

Anônimo disse...

Se você não tivesse questionado, teria escrito mais dois capítulos, Carol. O "protocolo" determina que aborto de repetição - e que deve ter suas causas investigadas - é aquele que acontece, pelo menos, quatro vezes. Quatro abortos, dá para imaginar?
Eu acho esse protocolo cruel.

Anne disse...

Carol, seu post diz tudo. Aparentemente a gente fica menos assustada com a palavra, mas nunca menos triste, menos marcada.
Um dia li que a dor passa sim. A gente esquece sim. O problema é que a gente lembra.
Passei também por uma perda, e em alguns meses de blog tb me vi com vontade de escrever sobre, para rabiscar também as minhas páginas. Mas aí penso... estão tão bonitinhas as páginas. Não quero contar essa história triste... nó na garganta...
Que bom que temos essas amigas cibernéticas.
Me enchi tanto de ouvir "foi o melhor"... afff
Vamos lutando, né? Um dia eu também vou ter que enfrentar e escrever sobre isso...
Bjos
Anne
mammisuperduper.blogspot.com

Dani Maciel disse...

Carol, estou passando por esta página, faz 25 dias que tive um aborto, seria minha terceira gravidez, diferente das outras não foi planejada, aí primeiro foi o susto, depois naturalmente a vontade plena de ser mãe denovo, mais mãe, aí a perda que ainda não sou capaz de descrever tamanha dor, lendo suas palavras tive a certeza de que só quem passa por isto pode entender, algumas como vc são capazes de escrever e colocar pra fora todo o sentimento, eu ainda não.
Não posso e nem poderia parar minha vida, pois tenho duas coisinhas lindas aqui, mas meu sentimento é de luto, vejo que pras pessoas que estão a minha volta passou, eu ainda estou vivendo meu luto.
Dei uma parada brusca lá no meu blog, primeiro pq não sabia se já deixava registardo lá a nova gravidez, depois pq não via sentido de escrever, simplesmente, perdi um bebe...
Aos poucos sei que "vai passar" e que o que eu sinto agora vai se transformar.
Deixo aqui meu agradecimento pelas suas palavras, tão claras sobre o que sinto agora!
Bj

Sarah disse...

Excelente post Carol. Não passei por isso, mas pode acontecer, quem sabe? E imagino que a ferida fique aberta por um bom tempo, que um dia feche, mas a cicatriz fica lá.
Bacana vc escrever sobre isso, colocar para fora. Faça quantas vezes achar necessário...
bjo

Carol Garcia disse...

Dani 1.
QUATRO abortos??????
E isso é sério? Não dá pra acreditar nessa ciência!

Anne, querida, um dia chega essa vontade de por pra fora. não se apresse. e se não chegar, não se cobre.

Dani 2.
Sinto pela sua perda. Não se culpe, não sinta dó de vc mesma. Só sinta. Vc tem esse direito. Só não deixe de respirar fundo e perceber que o luto pode até estar aí por um bom tempo, mas só vai estar aí. vc tem duas coisicas lindas, elas tbm merecem vc. Não consegui comentar no seu blog...
bjo bjo bjo

Geovana Centeno disse...

oi Carol nunca passei por isso graças a Deus, fiquei gravida 2 vezes e tive meus filhos, nem sei o que dizer neste caso, só que sinto muito apesar de fazer tempo né, mas sinto muito viu por você e por outras mães...beijcoas!!!

Micheli Ribas disse...

Esse assunto nunca é fácil. Também sofro com a dificuldade de engravidar. Há cerca de dois meses postei sobre uma dúvida de que poderia ter abortado sem saber ainda que estava grávida. Depois não contei como foi no médico. É, aconteceu, sim. Menos doído porque ainda nem tinha ficado feliz em saber da gravidez? Talvez um pouco menos. Mas muitas dúvidas, inseguranças e, sim, sentimentos contraditórios rondam a nossa mente por um bom tempo. Ainda me sinto assim. Só que eu não quis postar isso... Sei lá, marido ficou muito insensível a tudo, como se nada tivesse acontecido e isso me deixou muito chateada com ele também. Para não aumentar o problema, tenho tentando não falar no assunto para ninguém. Mas fica na minha memória, não tem como. O desejo de não ter filha única com eu fui segue. E aí? Não sei como será daqui pra frente. O médico daqui acha que está tudo "normal". O que me tratou está a quilômetros, o que compromete muito um tratamento que teria de estar lá toda hora. Estou esperando para ver o que devo fazer, esperando em Deus mesmo.
Complicado, né, amiga?
Beijo grande!

Lane e Pedro Henrique disse...

Eu também passei por isso antes de engravidar do PH. Muito triste e cruel com nós, mulheres. Dor sem explicação, que demora a passar e mesmo assim, durante a gravidez do PH, a lembrança foi como um fantasma que me assombrava a todo o momento. Graças a Deus não se repetiu! Mas de fato, é muito, muito complicado. Bjks.

Tati Antunes de Andrade Cortes disse...

Oi Carol...
Lendo seu post hj relembrei de tudo que vivi.
A dor não passa nunca...

Estou te seguindo...
Beijinhos!

RECOMADRES disse...

Oi Carol,
Lindo post, claro, sincero, franco, honesto, sensível,emocionante e verdadeiro.
Lá no RECOMADRES nossa comadre Jana acabou de perder seu pitico depois de 7 semanas de repouso (essa era sua 3ª gravidez)e ...acho que o que tem que ser, será!
Acredito também que a dor deve suavizar com o tempo...algumas pessoas precisam de mais tempo que outras. Estamos lá felizes porque a minha irmã, a outra comadre Andrea está no 5º mês de sua segunda gravidez e por isso estamos todas no aguardo de mais um cueca pra nossa turma.Eu tenho dois, a Jana dois e minha irmã agora terá dois, todos meninos, por enquanto continuaremos sendo um blog azul, mas só por enquanto...já, já a Dona Cegonha passa por lá de novo.
Beijos,
Cris João.
www.recomadres.blogspot.com

Mi Satake disse...

Importante sseu post Carol. Nunca passei por um episodio de aborto, mas tento imaginar essa dor. Por aqui algumas amigas relataram, com vc esses periodos, algumas outras amigas tb.
E acho q vc está bem centrada. Acho suuuper valido o QUESTIONAR, isso nos leva a ficar mais seguras, apoiadas e firmes pra tentar de novo. Acreditando, sempre!

Beijão

Ju do Pinguinho da Mamãe disse...

Oi, Carol.
Aborto, para mim, ainda é uma palavra que assusta... Um dia conto o que aconteceu comigo, no aborto que tive antes da pinguinho.
Concordo que é um capítulo, como vc disse, mas ainda me dá medo.
E inevitavelmente, quando penso em aumentar a cria, ele retorna como uma sombra e me deixa muito assustada.
Tenho minha linda filha, hoje, com a graça de Deus, mas o aborto machuca muito nossa alma de mãe, ou mais uma vez mãe ou tentando ser mãe. Ainda é doloroso.
Beijos na sua amiga Ceiloca.
E bjs em vc.
O post foi muito sincero.
Ju

Alê disse...

Post perfeito! bjos

Maria Thereza Pinel disse...

Ei Carol, não conhecia esses fatos sobre a sua vida (e pelos comentários percebo que o aborto é mais frequente que pensava entre as mamis blogueiras).
Fico feliz que você encare de maneira tão positiva os seus dois abortos, e vejo o quanto o Isaac é uma das maiores (se não a maior) conquistas da sua vida.

Fico feliz por ter conseguido, e por se sair tão bem sendo mama do seu pequetito!
Beijinho!

qualquer dia que a Lara tiver quietinha dou uma passadinha aqui para ler seu bloguitcho desde o início!

Kah disse...

Às vezes eu fico pensando o que se passa na cabeça dos médicos, sabe?
Será que eles não entendem que é uma vida que tem ali dentro? Que o descaso deles pode levar alguém a morrer? Por que um bebê precisa nascer para ser considerado gente?

Uma vez fomos em um hospital aqui em JP e chegou uma grávida. Eu estava com dor nas costas pela infecção urinária e tal, mas estava bem. Ela chegou sangrando, uns 5 minutos depois de mim. Ela sangrava MUITO, pingava no chão. Chamaram uma mulher, outra, mais outra, até que me chamaram. Quando me chamaram eu pedi que atendessem ela primeiro, sabe o que a recepcionista disse?
- Não podemos, moça. O seu é particular, o dela é plano.
Foi preciso um aue meu para atenderem ela, porque a coitada estava sozinha e nitidamente sem forças para lutar pelos direitos.
Eu fiquei internada esse dia, e ela também. Ela perdeu o bebê, fiquei sabendo pelas enfermeiras. Será que um atendimento mais rápido não teria salvo esse bebê?
Enfim... Já escrevi demais.
Beijão!

Bianca disse...

Ah Carol, que texto legal! Perdas são sempre perdas. Beijos mil!

Ana disse...

Oi Carol!
li seu relato que vc linkou e me emocionei muito...Mas no fim o Izaac ta ai,lindão..De verdade não sabia que vc tinha passado por td isso..te admiro mais ainda agora!
Estou meio sensivel a isso td,porque mes passado eu achei q estava gravida..fiz um teste e deu positivo..mas no mesmo dia sangrei mt e minha menstruação desceu normal..
fiquei mt mal,nao quis falar sobre isso no blog,mas acho q comentei em alguns recados q achava q estava gravida e n estava..acho q ate falei p vc...
;-(
Na verdade n entendo direito o que aconteceu,nem sei se estava mesmo, se o teste deu errado,n sei..so sei q sofri muito,chorei um dia inteiro pois ai percebi o quanto quero ter outro filho...
Com os blogs agora,percebi que isso ja acnteceu c muitas mamaes, e agora lendo seu relato,digo a vc o mesmo que falei para outra blogueira querida: acho que seu filho,no caso o lindo Izac,ele perdeu um onibuzinho que ia levar ate vcs..perdeu algumas vezes...se atrasou,perdeu o ponto,rsrs..n sei..mas por fim ele embarcou na hora certa e esta ai fazendo vc muito feliz!!
parabens pela forma de ver a vida!!!beijos enormes e uma otima sexta!!
;-)

Ferna disse...

Oi Carol
obrigada pelo post, foi bem importante pra mim. Tive um aborto final de junho e sei como é difícil tocar a vida e elaborar tudo ao mesmo tempo.
Hoje por tua causa, me permiti pensar, sofrer e falar sobre isso de novo. Falei bastante com a carol do baby bobeiras no msn e foi bem bom. Futuquei a ferida e fiquei mais leve. Mas sinto que tem muito ainda pra ser sentido.
Também quero escrever sobre isso. Vai me fazer bem e também penso que pode ajudar outras mocinhas que passaram ou estão passando por isso. Talvez um dia desses...

Eu ainda não tenho filhos, mas te ver com o filhote lindo me deixa bem feliz e cheia de esperança!
Obrigada por dividir isso!

beijos

Anônimo disse...

Oi Carol!
Bom dia, amiga!

Coisa boa ter amigas como vc!
Esse assunto nunca bateu aqui na minha porta, e espero que nunca bata, assim, diretamente. Mas sou solidária na dor de sua amiga, imagino ser praticamente indescritível.

Mas como vc bem falou, é preciso aceitar os fatos e falar do assunto. Li o post que vc linkou e me emocionei com sua hístória, e simplesmente, passei a te admirar ainda mais por sua força e coragem!

um beijo carinhoso para vc e para sua amiga tb!

Unknown disse...

Carol, querida, muito obrigada por aceitar o convite, trazer seu capítulo nessa história de mulheres e incentivar outros capítulos pela blogosfera.
Tenho visto o aborto muito como oportunidade e cura mesmo. Como acredito demais em espiritualidade, agora, faz cada vez mais sentido pensar que essas luzes vêem para nos ensinar algo e a gente precisa também retribuir isso a elas no sentido de aceitar essa lição e explicar aos fetos mortos o porquê não foi desta vez, mas o amor que houve, ou não.

bjkas e parabéns!
vou trazer seu post de volta la no meu cantinho.

Aracéli e Paulo Carneiro disse...

Oi Carol... Que lindo seu post!!! Vc sempre coloca as palavras certas nos momentos certos... Perder é sempre difícil, e não há tempo que faça a dor passar né?
Bom... Não sei se vc sabe, mas tô grávida de novo, e desta vez, nada de tratamento... Um milagre mesmo! Eis que, com uma trompa a menos e os ovários trabalhando de forma preguiçosa, Deus me enviou mais um... E confesso! Tô ansiosa!!! Com medo... Medo da perda... Mas tô aqui, firme (ou quase) tentando ficar tranquila e levar a vida normalmalmente...
Beijocas!!!

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