O sono era dos justos.
Com certeza ela sonhava que dormia na melhor das camas, com o maior dos silêncios e as mais longas e aproveitadas horas.
De lá do outro quarto ele chama. Primeiro com uma voz doce, frágil.
Depois de algumas tentativas ele já demonstrava uma certa impaciência e o choro sem lágrimas ficava cada vez mais sintetizado através das ondas da babá eletrônica.
A mãe levanta e, tropeçando, vai padecer no paraíso, às duas e meia da manhã.
No curto caminho pensou nos motivos, nos prós e contras das mamadas a essa hora. Lembrou do almoço de domingo, pensou na sobremesa. Passou a mão no cabelo e lembrou que há tempos não os cortava.
Tropeçou mais uma vez e viu que ia ter que convencê-lo que mamar aquela hora não era uma coisa assim tão bacana.
Foi até a beirada do berço.
Sorriu. Que mãe não sorri, mesmo assim, de pijamas, descalça, arrancada da cama às duas da matina?
Ele não hesitou. Pediu o tetê.
Ela bem que tentou. Ele ameaçou um escândalo. Deixou de ouví-la. O que quer que ela falasse.
Pacientemente ela se levantou da poltrona branca, foi até a cozinha.
No caminho pensou em mais uns cinco ou seis detalhes da vida.
Preparou o alimento.
Voltou e lá ele estava. Acordado. Esperando.
Ela trocou a fralda, ofereceu o leite e alí ficou esperando.
Ao terminar ele avisa, estende os braços e pede a chupeta.
Vira as costas.
Ela permanece alí, imóvel, esperando que o sono venha rápido.
Ele se vira de repente:
- Mamãe...
- Oi, filho...
- Te amo.
- Eu também te amo. Muito.
- E eu te amo mais que tudo.
De novo ele se ajeita no travesseiro, vira de costas.
Ela?
Ah... Ela se ajeita pra vida inteira, e não há pensamento que a faça parar de sorrir. Por um bom tempo.